Uma idosa de 71 anos foi submetida ao tratamento em março. Ela morreu após ser transferida para Manaus e uma sindicância foi aberta para apurar o caso.
O prefeito de Itacoatiara, Mário Abrahim, disse em entrevista ao G1 nesta terça-feria (4), que médicos do município ouvidos por ele informaram que a nebulização com hidroxicloroquina, aplicada em uma mulher de 71 anos em um hospital da cidade, é um procedimento que, eventualmente, é realizado pelos profissionais de saúde no estado, inclusive em Manaus. Após o tratamento, a idosa morreu.
“Contratamos alguns médicos que precisávamos para nos dar suporte. Esses médicos, conversando sobre o assunto, disseram que o tratamento é uma prática que se faz, não vou dizer habitual, mas é praticado. E também informaram que o tratamento era feito, inclusive, em Manaus”.
O G1 entrou em contato com as secretarias de Saúde de Manaus e do Amazonas para posicionamentos em relação à declaração do prefeito em relação à aplicação da nebulização em unidades de saúde.
Em nota, a Secretaria de Saúde de Manaus não comentou sobre a afirmação do prefeito de Itacoatiara e informou que os casos na capital ocorreram em hospitais da rede estadual, não sendo responsabilidade do município. Já a Secretaria de Saúde do Amazonas também não comentou as declarações e, em nota, informou que não compactua com práticas comprovação científica. Diz ainda que abriu sindicância para apurar o uso de hidroxicloroquina em pacientes, tanto no Instituto da Mulher Dona Lindu quanto no Hospital Regional José Mendes, em Itacoatiara, porém não informou sobre o andamento das investigações.
O prefeito de Itacoatiara disse que o falecimento da idosa que morreu após a nebulização só ocorreu 18 dias após o tratamento e em Manaus. “Não estou aqui nos eximindo, nos omitindo da culpa, da responsabilidade. Mas estamos apurando”, declarou.
Em relação à sindicância aberta para apurar o caso, o mandatário explicou que, até o momento, não houve nenhum resultado preliminar e disse não ter conhecimento da nebulização em outros pacientes da cidade.
Ainda segundo Abrahim, a nebulização com hidroxicloroquina não está no protocolo adotado pela prefeitura de Itacoatiara para pacientes com Covid-19. Ele disse que ordenou a suspensão do uso do medicamento na cidade. “Tive a informação de que o tratamento não tem eficácia e suspendemos o procedimento junto à Secretaria de Saúde relacionado a esse tipo de medicação”, explicou.
“Nesse caso em específico foi um médico, recém-chegado na cidade, e nós abrimos a sindicância para apurar o que houve, mas não temos nenhum resultado, por hora. Assim que tivermos vamos tomar todas as medidas, haja vista que o procedimento não é comum. Vamos analisar, queremos entender os procedimentos para conversarmos com a Secretaria de Saúde e decidirmos as orientações que vamos tomar”.
Já em relação a uma CPI que a vereadora Andreia Mara (Avante) deve protocolar para investigar a nebulização com hidroxicloroquina no município, além da utilização de médicos do programa Mais Médicos no hospital da cidade, Abrahim disse que não teme a investigação e que a Prefeitura agiu da melhor maneira possível diante da crise ocasionada pela pandemia.
“Não temos receio da CPI. A gente tem a consciência e a tranquilidade de que procedemos da melhor forma possível. Os médicos do programa Mais Médicos que atuaram no hospital, eles não estavam medicando. Eles estavam acompanhados de outros médicos e naquele momento de crise a gente entendeu que eles ajudavam muitos”, concluiu.
Casos no Amazonas
Segundo a Secretaria de Saúde do Amazonas, pelo menos duas pacientes com Covid-19 foram submetidas a nebulização com hidroxicloroquina em uma maternidade em Manaus, em fevereiro, sendo que uma delas morreu.
Em março, a filha de uma idosa de 71 anos denunciou que mãe morreu após ser submetida ao tratamento em Itacoatiara. Ela chegou a ser transferida a Manaus, mas não resistiu.
A Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), vinculada ao Ministério da Saúde, informou que considera o tratamento realizado com cloroquina nebulizada em pacientes internados com Covid-19 em Manaus um experimento clandestino e sem autorização legal. Em nota, o órgão faz menção indireta às pesquisas com cobaias no nazismo.
FONTE: Matheus Castro, G1 AM