Grupos de defensores da saúde e da infância do mundo todo querem que o Facebook cancele seus planos de lançar uma versão para crianças do Instagram, o seu aplicativo de compartilhamento de imagens.
A plataforma “obcecada pela imagem” é perigosa para a saúde e a privacidade das crianças, diz uma carta da Campaign for a Commercial-free Childhood (campanha para uma infância sem comerciais, em tradução livre), assinada por 99 grupos e indivíduos do mundo todo .
O Facebook, dono do aplicativo, tem discutido planos para a criação de um Instagram para menores de 13 anos nas últimas semanas. A empresa afirma que o novo app seria “administrado pelos pais”.
“As crianças já estão online e querem se conectar com sua família e amigos, se divertir e aprender. Queremos ajudá-los a fazer isso de uma forma segura e adequada à idade e encontrar soluções práticas para o problema contínuo de crianças mentindo sobre sua idade para acessar aplicativos “, disse o Facebook à BBC.
“Estamos trabalhando em novos métodos de verificação de idade para manter os menores de 13 anos fora do Instagram, e acabamos de começar a explorar uma experiência no Instagram para crianças apropriada para a idade e gerenciada pelos pais”, afirma a empresa.
“Concordamos que qualquer experiência que desenvolvamos deve priorizar sua segurança e privacidade, e vamos consultar especialistas em desenvolvimento infantil, segurança infantil e saúde mental e defensores da privacidade. Também não vamos exibir anúncios em nenhuma versão do Instagram desenvolvida para menores de 13 anos.”
Em março, o site BuzzFeed relatou que os executivos do Facebook discutiam planos para criar um novo Instagram para crianças e que o assunto havia sido tratado em uma comunicação interna da empresa.
Saúde mental dos mais jovens
O Facebook, junto com outras redes sociais, está sob pressão crescente para encontrar maneiras de impedir o ingresso de menores de 13 anos. No momento, a crianças podem acessar as plataformas simplesmente mentindo sobre suas idades.
Na carta, os signatários apontam que os menores de 13 anos que já estão no Instagram dificilmente “abandonarão por um novo site que parece infantil”.
“O verdadeiro alvo do Instagram para crianças serão as crianças muito mais novas”,diz a carte.
“O modelo de negócios do Instagram se baseia em extensa coleta de dados, maximizando o tempo nos dispositivos, promovendo uma cultura de compartilhamento excessivo e idolatrando influenciadores, bem como um foco implacável em aparência física. Certamente não é apropriado para crianças de sete anos”, afirma Josh Golin, diretor executivo da Campaign for a Commercial-Free Childhood.
“O Facebook afirma que criar um Instagram para crianças ajudará a mantê-las seguras na plataforma. Mas o objetivo real da empresa é expandir sua franquia altamente lucrativa para um público ainda mais jovem, apresentando às crianças um poderoso ambiente de mídia social comercializado que representa sérias ameaças à sua privacidade, saúde e bem-estar”, afirma Kathryn Montgomery, do grupo de direitos digitais dos Centro para Democracia Digital dos EUA.
A carta cita uma pesquisa da Sociedade Real para a Saúde Pública que classificou o Instagram como a pior rede social para a saúde mental dos jovens.
O relatório afirma que o Instagram está relacionado a um alto risco de transtornos alimentares, cyber-bullying e assédio sexual.
Ainda esta semana, o Instagram foi forçado a se desculpar depois que um “erro” significou que propagandas de dietas foram promovidas para usuários com transtornos alimentares.
O pai da adolescente britânica Molly Russell, que tirou a própria vida em 2017, disse que a plataforma é parcialmente responsável, porque Molly havia visto material sobre depressão e suicídio nela, embora esse conteúdo seja proibido.
Auto-imagem
“O foco do Instagram em compartilhamento de fotos e aparência torna a plataforma particularmente inadequada para crianças que estão no meio de estágios cruciais de desenvolvimento de seu senso de identidade”, diz a carta.
“Crianças e adolescentes (especialmente meninas) aprenderam a associar fotos exageradamente sexualizadas e altamente editadas de si mesmas com mais atenção na plataforma e popularidade entre seus colegas.”
Também há pressão comercial desnecessária sobre as crianças, diz a carta, citando uma análise da agência de monitoramento digital Sprout Social, que sugere que uma em cada três postagens no Instagram é um anúncio.
O YouTube for Kids, que não exibe anúncios, foi recentemente criticado por ter marketing e publicidade dentro de vídeos, com postagens pagas. O Instagram também enfrentou críticas por não deixar claro quando as postagens são anúncios pagos.
A carta acrescentou que o Facebook tem “um longo histórico de exploração de jovens”, citando uma falha de design no Messenger Kids que permitia que crianças pequenas contornassem o controle parental.
A carta, dirigida ao chefe do Facebook, Mark Zuckerberg, é assinada por 35 organizações e 64 indivíduos.
O Facebook não é a única plataforma sendo questionada pela forma como trata os jovens.
O grupo holandês de privacidade Foundation for Market Information Research alegou que o TikTok viola a privacidade das crianças e planeja registrar uma reclamação formal.
FONTE: CNN/Jane Wakefield-Reporter de tecnologia