Em “O legado dos genes”, Mayana Zatz e Martha San Juan França desvendam os segredos da longevidade
Festejada e desejada, a longevidade ainda guarda mistérios: por que há pessoas que mantêm a agilidade física e mental mesmo depois dos 80 anos? Esse é o fio condutor do livro “O legado dos genes: o que a ciência pode nos ensinar sobre o envelhecimento”, assinado pela premiada geneticista Mayana Zatz, professora titular do Instituto de Biociências da USP e coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco, e pela jornalista Martha San Juan França.
As explicações vão além da herança genética que carregamos, é o que detalha a obra, por isso é tão importante que, além do engajamento de cada um para adotar um estilo de vida saudável, também tenhamos políticas públicas comprometidas com a longevidade. A doutora Mayana está à frente do Projeto 80+, que coleta DNA de voluntários dessa faixa etária. O banco de dados foi criado para servir como base de comparação para a genética dos idosos brasileiros e ganha mais relevância considerando que muitos sobreviveram ao pesadelo da pandemia.
A geneticista Mayana Zatz, professora titular do Instituto de Biociências da USP e coordenadora do Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco — Foto: Fernando Molina
No longo prazo, será possível identificar mutações que favorecem o envelhecimento saudável, com a vantagem de termos informações de indivíduos brasileiros. Ali são desenvolvidos testes capazes de analisar, simultaneamente, 6.300 genes responsáveis por doenças genéticas raras. Há ainda pesquisas de ponta em promessas da medicina, como os xenotransplantes (transplantes de órgão, tecidos ou células modificados de suínos para humanos), bioengenharia (reprogramação de células), edição de genes e terapia gênica.https://f35ff728dd5d5e7c795f41ce9d3be34c.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Até setembro de 2020, o Centro de Estudos do Genoma Humano já havia sequenciado o genoma de 1.171 idosos – trata-se da maior amostra de brasileiros. “Queremos entender como funcionam os neurônios, as células musculares, as células de vasos sanguíneos em pessoas que se mantêm fisicamente saudáveis após os 90 anos. Saber os mecanismos que as protegem dos aspectos físicos do envelhecimento poderá abrir caminho para novos tratamentos que beneficiem a todos”, diz a doutora Mayana Zatz.
Utilizando uma linguagem acessível, o livro explica como o envelhecimento começa nas células: elas estão sempre se dividindo, e a cada divisão todo o genoma é duplicado (replicado), e os genes transmitidos para as gerações seguintes devem ser idênticos às versões anteriores. No entanto, as células estão sujeitas às agressões do meio ambiente e podem ocorrer falhas no momento da replicação celular que não são reparadas e vão se acumulando com o tempo. Outro problema são os radicais livres, moléculas altamente reativas produzidas pelo metabolismo celular durante o processo de queima do oxigênio utilizado para converter os nutrientes em energia. As pesquisas voltadas para a biogerontologia têm o objetivo de descobrir formas de evitar, ou pelo menos adiar, a ocorrência desses danos nas células.
Um dos trechos mais interessantes mostra como o cérebro do idoso compensa a redução de células nervosas relacionadas à idade formando novas conexões entre as células remanescentes. Entretanto, para mantê-lo “afiado”, é preciso exercitá-lo continuamente: esse conceito embasa o que os neurocientistas chamam de reserva cognitiva, que é a capacidade do cérebro de armazenar as habilidades adquiridas ao longo da vida. O livro também enfatiza a importância da atividade física e de se ter sempre um propósito na vida – assuntos sobre os quais o blog não se cansa de abordar desde 2016.
FOTO: G1 AM