Minimalista e tecnológica, como a tradição japonesa, cerimônia também fez referência ao Massacre de Munique, em 1972, e mostrou estrutura feita de drones
Os primeiros minutos da abertura das Olimpíadas de Tóquio 2020, nesta sexta-feira (23), encerraram o mistério em torno do tom da cerimônia dos Jogos: sóbria e minimalista na maior parte do tempo, com alguns momentos mais animados e a referência óbvia à pandemia da Covid-19.
Com um público de cerca de mil pessoas, formado apenas por autoridades, profissionais ligados ao evento e os próprios atletas, o espetáculo não teve o mesmo entusiasmo que marcou edições anteriores, adotando um tom mais discreto. Mesmo assim, contou com as tradições habituais, como o desfile dos atletas, o juramento olímpico e o acendimento da pira, adaptados à realidade dos Jogos da Covid.
A participação brasileira no desfile também foi “minimalista”. Ao contrário de outras delegações, que apareceram numerosas, o COB (Comitê Olímpico Brasileiro) optou por levar apenas quatro integrantes – os porta-bandeiras Ketleyn Quadros (judô) e Bruno Rezende (vôlei), Marco Antônio La Porta, Chefe de Missão, e Joyce Ardies, oficial e representante dos colaboradores da entidade.
“Adoraríamos entrar com centenas de pessoas neste estádio. Mas o momento pede precaução. Saúde em primeiro lugar”, publicou o COB em comunicado.
No dia anterior, ao anunciar essa decisão, a entidade afirmou que “levaria em consideração a segurança dos atletas brasileiros em cenário de pandemia, minimizando riscos de contaminação e contato próximo, zelando assim pela saúde de todos os integrantes do Time Brasil”.
O acendimento da pira olímpica, celebrado como o grande final da cerimônia de abertura, carregou simbolismo. Entre os últimos carregadores da tocha, estavam um médico e uma enfermeira, representando os profissionais de saúde, e a atleta paralímpica japonesa Wakako Tsuchida, reforçando a mensagem de inclusão.
A responsável por acender a pira, revelada apenas no último momento, foi a tenista Naomi Osaka. Sua participação também teve peso além do âmbito esportivo – a japonesa de ascendência haitiana, que cresceu e fez carreira nos Estados Unidos, recentemente chamou a atenção para as questões de saúde mental envolvendo os atletas.
Minimalismo e homenagens a mortos em Munique
A cerimônia começou com uma queima de fogos no Estádio Nacional de Tóquio. Foi um rápido momento de excitação, que deu lugar a um clima sóbrio, por vezes até sombrio, com alusões evidentes à pandemia.
Os primeiros 20 minutos do espetáculo apresentaram vídeos com referências aos atletas treinando em casa. Quando o show voltou à apresentação ao vivo no estádio, artistas espalhados pelo palco, utilizando esteiras e outros aparelhos, demonstraram ao vivo a sensação do treino em isolamento, distante do contato com os outros.
Pouco depois, a cerimônia adotou um tom reflexivo e de homenagem, estabelecendo um minuto de silêncio em lembrança tanto dos mortos pela Covid-19 quanto pelas vítimas no atentado terrorista realizado nas Olimpíadas de 1972. O episódio, conhecido como Massacre de Munique, é a maior tragédia da história dos Jogos.
Durante a cerimônia, houve referência também ao terremoto e tsunami que assolaram o país em 2011, com a participação de estudantes das cidades de Iwate, Miyagi e Fukushima – essa última, palco de um desastre nuclear decorrente das tragédias naturais.
O espetáculo contou com a presença do imperador Naruhito, responsável pela declaração oficial de abertura dos Jogos, e do presidente do Comitê Olímpico Internacional, o alemão Thomas Bach. Em seu discurso, Bach afirmou que a data era um “momento de esperança”.
Ode à tecnologia e cultura do Japão
Naquele que foi possivelmente um dos momentos mais impactantes da cerimônia, uma estrutura montada com 1.800 drones formou um globo metros acima do Estádio Nacional. Na sequência, artistas, em vídeo, e um coro infantil, presencialmente, cantaram uma versão de “Imagine”, de John Lennon, que compôs a música no início dos anos 1970 com a parceira – a japonesa Yoko Ono.
O final da cerimônia trouxe ainda uma performance em live action dos pictogramas, com coreógrafos se revezando na hora de representar cada uma das 46 modalidades entre os 33 esportes presentes nos Jogos. Na sequência, um ator fez uma encenação kabuki, centenária forma de teatro japonês.
Conhecidos jogos de videogame, outra tradição do país, também apareceram no evento, como trilha sonora do desfile das delegações.
Delegações tiveram posturas diferentes
O tradicional desfile dos atletas dos países foi mais rápida que o usual, e consideravelmente reduzida para evitar a presença de grandes grupos. Mesmo assim, algumas equipes apareceram com dezenas de atletas, como os Estados Unidos, Itália, Argentina e o próprio Japão.
Apesar do quórum reduzido, o Brasil esteve entre as delegações que tentou mostrar alguma animação: Ketleyn Quadros e Bruninho até ensaiaram passos de samba durante a passagem.
A imensa maioria dos atletas desfilou de máscaras, mas países como Tadjiquistão e Quirgistão mostraram membros de sua delegação com o rosto inteiramente descoberto. Outras delegações, como a Etiópia, preferiram não seguir a orientação do COI de colocar homens e mulheres, juntos, como porta-bandeiras – mais um esforço da entidade de reforçar a imagem de diversidade e inclusão nos Jogos de Tóquio.
FONTE: Marcelo Tuvuca, colaboração para a CNN