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Aos 47 anos, amazonense com surdez profunda recebe implante e ouve voz dos filhos pela 1ª vez; veja reação

Frank Félix foi o primeiro paciente adulto a receber um implante coclear na rede de saúde pública do estado.

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A esposa de Frank, Adriana Félix, é uma das principais apoiadoras do marido. — Foto: Bianca Fatim/g1 AM

Após passar grande parte da vida com surdez profunda, o industriário Frank Félix, de 47 anos, passou a ouvir sons pela primeira vez ao receber um implante coclear, no Amazonas. Ele foi o primeiro paciente adulto a fazer a cirurgia na rede de saúde pública do estado. Com o procedimento também veio a realização de um sonho: escutar os filhos o chamando de “pai”. Veja o vídeo acima.

O som de uma simples palavra, que faz parte do dia a dia de muitas famílias, não estava presente na vida de Frank. Os três filhos do amazonense, Fabrício, 28, Fernanda, 24, e Ágata, 13, nasceram sem nenhuma deficiência auditiva. No entanto, foram ensinados desde a infância a também falar por meio de Libras, para se comunicar com o industriário.

O diagnóstico de surdez profunda de Frank veio aos três anos de idade, após familiares notarem a dificuldade auditiva que ele sofria. Desde a infância até a vida adulta, a deficiência nunca o impediu de se comunicar ou tentar entender o que as pessoas à sua volta falavam.

Ao formar uma família, Frank passou a ter o sonho de ouvir os filhos. O desejo ganhou os primeiros sinais de que poderia ser realizado em 2019, quando a esposa dele, Adriana Félix, recebeu informações sobre o implante coclear e começou a pesquisar sobre o assunto.

Na época, o procedimento não era realizado na rede estadual de saúde do Amazonas, mas já estava sendo disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Ribeirão Preto, São Paulo, por meio de Tratamento Fora De Domicílio (TFD).

Houve idas e vindas com os processos burocráticos para realizar a cirurgia fora de Manaus. O sonho acabou sendo adiado, devido à pandemia, e só voltou a ganhar forças no início deste ano, após Adriana receber a informação de que o procedimento havia sido implementado na rede estadual de saúde do Amazonas.

“Foi um turbilhão de emoção. Eu não sabia se eu falava para ele ou se eu chorava. Aí eu contei para ele que a cirurgia já estava perto e aconteceria em 15 dias. Foi tudo muito rápido”, revelou a esposa de Frank.

Cirurgia
Incisão do procedimento de implante coclear. — Foto: Bianca Fatim/g1 AM
Incisão do procedimento de implante coclear. — Foto: Bianca Fatim/g1 AM

No dia 18 de março, o industriário deu entrada no Hospital e Pronto-socorro Delphina Aziz, para realizar o procedimento que mudaria a vida dele.

Nervoso e com grandes expectativas para poder ouvir os sons do mundo, Frank passou pela cirurgia, que durou cerca de 30 minutos.

“Fiquei muito nervoso e a minha pressão muito alta. Antes, eu tive que colocar diversos aparelhos para ficar avaliando. Então, o médico, muito atencioso, viu que eu estava me tremendo de frio, me enrolou em um lençol, mandou eu me acalmar e eu fui anestesiado”, contou Frank.

 implante coclear — Foto: Divulgação/Unimed
implante coclear — Foto: Divulgação/Unimed

A cirurgia consiste em uma incisão atrás da orelha para acessar a cóclea – porção da orelha interna responsável pela audição – e inserir eletrodos para estimular o nervo auditivo.

“A gente abre a cóclea do paciente e introduz esses eletrodos, que vão fazer a estimulação do nervo auditivo. E aí a gente posiciona a parte da antena e da bateria embaixo do couro cabeludo dessa criança ou desse adulto e faz o fechamento da cirurgia”, explicou o médico responsável pelo procedimento de Frank, Dr. Luiz Avelino.

Frank passou pelo procedimento e recebeu alta no mesmo dia.

Ativação do som

Após passar pela cirurgia, Frank ficou 30 dias em período de cicatrização. Em seguida, passou pela ativação do som do implante coclear. Nessa etapa, uma unidade externa, tipo de antena, é posicionada pela primeira vez atrás da orelha.

Esse aparelho simula os sons externos, possibilitando que o paciente escute vozes e ruídos pela primeira vez após o procedimento.

Implante coclear. — Foto: Bianca Fatim/g1 AM
Implante coclear. — Foto: Bianca Fatim/g1 AM

Sons finos e uma vibração estranha dentro da cabeça foram as duas sensações que o industriário teve durante o processo de ativação do implante. O susto inicial não impediu que Frank se sentisse feliz e emocionado.

“Era como se eu estivesse sendo chacoalhado, levando vários choques. E aí depois eu comecei a ouvir as vozes, finas: ‘nossa eu estou conseguindo ouvir, as vozes finas, são muito finas'”, contou Frank.

A antena é móvel e pode ser acoplada facilmente na roupa do paciente, sendo segurada por um fio fino e transparente.

Como Frank ainda está ouvindo os primeiros sons, alguns ruídos podem incomodá-lo. No entanto, caso isso aconteça, ele pode retirar o implante externo.

Emoção ao ser chamado de ‘pai’
Frank ouviu os filhos o chamarem de pai pela primeira vez. — Foto: Bianca Fatim/g1 AM
Frank ouviu os filhos o chamarem de pai pela primeira vez. — Foto: Bianca Fatim/g1 AM

A social media Fernanda Félix, filha do industriário, fez uma surpresa ao chegar de viagem mais cedo e chamá-lo. Inicialmente, ele não identificou qual dos filhos seria, mas ao se reencontrar com ela, se emocionou.

“Eu ouvi o barulho de alguém chamando ‘pai, papai?’ E era minha filha Fernanda. E eu disse ‘quem me chamou?’ E aí quando eu saí, a minha filha estava escondida me esperando, e eu chorei, fiquei muito emocionado. Porque eu nunca tinha ouvido a minha filha”, disse.

Fernanda explicou que sempre teve noção que o pai não era como os outros, por isso, não segurou a emoção ao perceber que ele havia atendido o seu chamado.

“Eu nunca tinha chamado ele de pai, eu sempre pedia para alguém chamá-lo, e ele nunca tinha escutado a minha voz, então foi uma sensação dos dois lados muito emocionante. Não me contive, comecei a chorar porque desde criança, eu tinha essa sensação de que meu pai era surdo e eu sempre me comuniquei com ele por Libras”, disse a social media.

Rotina após a cirurgia

O tilintar da chuva e o sons do cotidiano têm encantado Frank nessa nova fase da vida. “A chuva, é maravilhoso o barulho da chuva. Eu estou maravilhado com tudo isso”, contou.

Com um longo período a percorrer para atingir um nível alto de audição, Frank ainda deve passar por uma série de terapias.

Como o industriário não desenvolveu a comunicação oral de forma completa, apesar de saber algumas palavras que aprendeu ao ler os lábios, um dos desafios é passar por processos de aprendizado para ter ter uma oralidade avançada.

“Na terapia, ele vai treinar a voz, vai consegui falar e com o treino vai ficar 100%. Porque como ele nunca ouviu, a voz fica embaçada, muito nasal, com a fonoaudióloga, o treinamento, a terapia, a voz vai ficar muito melhor”, disse a esposa de Frank, Adriana.

Com a adaptação, Frank conta que quer ter uma vida normal, na medida do possível, e desenvolver sua comunicação para trabalhar com o público, outro sonho a ser alcançado.

“Quero trabalhar no meio das pessoas me comunicando. Porque na fábrica, eu me sinto muito cansado. Mas eu gosto do meu trabalho, mas o meu sonho é trabalhar com administrativo”, revelou.

Quem pode fazer o implante?
Delphina Aziz, em Manaus. — Foto: g1
Delphina Aziz, em Manaus. — Foto: g1

No início de março, o Governo do Amazonas inseriu o implante coclear na lista de procedimentos da rede estadual de saúde.

A cirurgia é indicada para adultos e crianças com perda auditiva neurossensorial severa à profunda. O procedimento faz parte de uma linha de cuidado das pessoas com deficiência.

A prioridade para a realização de um implante coclear é para pacientes que nascem com perda total de audição, e que tenham até quatro anos de idade para que seja aproveitada a janela de aquisição de linguagem oral, que é desenvolvida neste período da vida.

“A gente foca nas crianças porque quanto mais precoce for a detecção de perda de audição, mais chance você tem de recuperar essa criança com o implante coclear, fazendo com que ela crie memória auditiva e consiga ter uma linguagem oral perfeita”, destacou o médico Luiz Avelino.

Nos casos de pacientes em idade adulta, não há uma idade limite para a recomendação do procedimento, desde que sejam avaliados e se encaixem nos padrões previamente analisados por médicos especialistas.

“O adulto, qualquer causa que ele a venha ter, a gente imagina que esse adulto seja pós-lingual, ou seja, ele nasceu ouvindo, adquiriu a linguagem e por um motivo infeccioso ou um trauma, ele perdeu a audição e precisa de um aparelho auditivo, que pode ser um aparelho comum. Mas quando o aparelho comum não tem mais alcance, a gente opta pelo transplante coclear, quando tem alguns critérios e indicação de cirurgia”, acrescentou o médico.

FONTE: Por G1 AM

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