Heptacampeão de Fórmula 1 diz não se preocupar em ser o melhor de todos os tempos no esporte; fora das pistas, britânico fala de questões como mudança climática e igualdade
Com 100 vitórias em corridas e 7 campeonatos mundiais até agora, Lewis Hamilton pode afirmar ser o maior piloto de Fórmula 1 da história.
Não que o britânico de 36 anos, que tem o maior número de vitórias ou lugares no pódio na história da F1, esteja pensando nisso.
“Não penso muito sobre o ‘melhor de todos os tempos’ porque acho muito difícil comparar as pessoas”, disse Hamilton a Coy Wire, da CNN.
“Naquele momento [dentro do cockpit] é apenas sobre ser o melhor que você pode ser e viver com todo o seu potencial. Então é isso que eu busco [para ficar] tão focado e motivado quanto eu puder”, continuou.
“Acho que o surpreendente é que estou competindo há tanto tempo e ainda tenho a mesma sensação quando fracasso ou quando não consigo, e transformo isso em algo positivo e uso como combustível. Pensei que isso diminuiria à medida que eu envelhecesse, mas não é o que aconteceu.”
Essa abordagem fez com que Hamilton chegasse ao topo de seu esporte, ultrapassando alguns de seus ídolos ao longo do caminho.
Ele luta pelo oitavo título mundial nesta temporada, um campeonato que o tiraria de um recorde dividido com a lenda do automobilismo Michael Schumacher.
Esse é um grande elogio para o menino que foi expulso da escola há tantos anos e cujo pai, Anthony, fez malabarismos com três empregos, hipotecou duas vezes a casa da família e juntou as economias de sua vida para manter o filho no kart.
“Meu sonho sempre foi chegar à Fórmula 1, fazer algo como Ayrton Senna – ele conquistou três títulos mundiais”, acrescentou o piloto da Mercedes.
“Então, me igualar a ele em determinado ponto e, então, ir além… Pensar que estou aqui hoje, onde a maioria das pessoas nem consegue um campeonato, e tenho sete deles é muito, muito louco ainda.”
“Mas todo ano quando eu volto, é como um reset. Tipo, eu não sou um campeão. Eu não tenho títulos. Estou buscando meu primeiro. É meio que minha mentalidade. Mas um oitavo? Não sei. Na verdade, nunca digo isso”, afirmou o britânico.
Talvez o maior desafio para o oitavo título mundial seja o rival de longa data Max Verstappen, da Red Bull.
A estrela holandesa atualmente lidera a classificação com sete vitórias neste ano, mas, embora reconheça que Verstappen está em ótima forma, Hamilton diz que seu foco continua sendo seu próprio desempenho e sua equipe.
“Acho que para nós é apenas garantir que continuemos aproveitando a jornada, para não aplicar muita pressão sobre nós mesmos porque já estivemos nessa posição muitas e muitas vezes antes”, disse ele.
“Mas não deixe esse desejo e essa ânsia de sucesso, de dominar tudo e colocar uma pressão adicional sobre nós – algo que realmente não precisamos. É tudo uma questão de preparação, nos certificando de que estamos o melhor preparados que podemos estar.”
Inspiração em Tom Brady
Além de seu próprio desejo, Hamilton encontrou inspiração em todos os cantos da sociedade e em todos os tipos de esportes.
Falando à CNN de Austin, no Texas, antes do Grande Prêmio dos EUA neste fim de semana, o piloto reconheceu o quanto pode aprender com nomes como o veterano da NFL Tom Brady.
Assim como Hamilton, Brady é considerado um dos melhores da história de seu esporte e as semelhanças não param por aí.
Todo ano quando eu volto, é como um reset. Tipo, eu não sou um campeão. Eu não tenho títulosLewis Hamilton, heptacampeão de F1
Enquanto o britânico ganhou sete campeonatos mundiais, o quarterback de 44 anos pode ostentar sete títulos do Super Bowl e ainda está competindo no mais alto nível até hoje.
“Eu acho que, naturalmente, quando você é um atleta, definitivamente vê pessoas com quem pode se relacionar”, explicou Hamilton.
“Tive o privilégio de assistir ao sucesso de Tom e, na verdade, fomos vizinhos por um segundo, literalmente. Acho que é realmente a mentalidade de um atleta: a unidade, o regime de treinamento, a atenção aos detalhes e o tipo de esforço constante para a perfeição.”
“Mas também o elemento de trabalho em equipe, de ser o líder da equipe, fazer parte de um grande grupo de pessoas que estão todas voltadas para um objetivo comum. Ele é um líder incrível, então me inspiro mais nisso”, ressaltou.
‘Nunca vou desistir’
Brady falou abertamente sobre seu desejo de continuar jogando na NFL e disse, talvez ironicamente, que poderia jogar até os 50 anos.
Uma carreira tão longa não é algo que Hamilton esteja pensando, mas o piloto está longe de pendurar as luvas.
Ele ainda possui o espírito competitivo – uma característica aprimorada ao competir com seu irmão em jogos de computador desde pequeno – e ainda tem apetite por adrenalina.
“Não acho que vou correr até os 50 anos. Mas quem sabe? Tenho certeza que vou fazer coisas como essa”, disse ele, sorrindo.
“Quer seja paraquedismo, quer seja surf, quer seja apenas ir para uma pista local, andar de kart com amigos. Acho que nunca vou desistir, mas talvez, profissionalmente, terei de fazer isso.”
Missão de ajudar fora das pistas
Enquanto crescia e se tornava o esportista de elite que é hoje, Hamilton continuou a usar sua plataforma global para lutar por mais do que apenas sucesso nas pistas.
Ele tem falado abertamente sobre questões como mudança climática e igualdade, e pressiona seu esporte e a sociedade em geral para se tornar mais tolerante e enfrentar questões relacionadas à falta de diversidade.
É uma missão talvez nascida de suas próprias experiências de vida – Hamilton diz que o sistema educacional no Reino Unido “falhou” quando ele cresceu depois que foi expulso da escola por algo que diz não ter feito.
Os alunos negros caribenhos tinham cerca de 1,7 vezes mais probabilidade de serem excluídos permanentemente das escolas do Reino Unido em comparação com os alunos britânicos brancos, de acordo com a Comissão Hamilton – um grupo liderado pelo piloto que aborda a sub-representação dos negros no automobilismo do Reino Unido e nos setores de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM, em inglês).
“Eu fui um desses [excluídos]”, disse Hamilton.
Mas o heptacampeão canalizou seus reveses para uma causa do bem, estabelecendo a Missão 44 – uma fundação que visa apoiar, promover e capacitar jovens de grupos sub-representados no Reino Unido.
“Apenas 1% das 40.000 pessoas na indústria [automotiva] no Reino Unido são de origem negra”, disse Hamilton, admitindo que ainda há muito trabalho a ser feito.
“Precisamos mudar o o fluxo. Precisamos ter mais olhos, mais incentivo para que essas crianças entrem nas disciplinas de STEM, para que percebam que existem tantos caminhos excelentes aos quais a engenharia pode levar.”
FONTE: Por CNN