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Maduro diz que oito embarcações militares dos EUA com 1.200 mísseis ‘apontam’ em direção à Venezuela

Presidente da Venezuela afirmou que aproximação de navios dos EUA é maior ameaça à Venezuela do século. EUA enviaram frotas ao Caribe sob pretexto de combater o tráfico de drogas. Imprensa americana afirma que autoridades não descartam uma invasão.

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Donald Trump, presidente dos EUA, e Nicolás Maduro, líder do chavismo na Venezuela — Foto: Kevin Lamarque e Manaure Quintero/Reuters

As oito embarcações militares dos Estados Unidos que navegam em águas do Caribe a caminho da América Latina já navegam em direção à Venezuela, disse nesta segunda-feira (1º) o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

Em uma rara entrevista coletiva concedida à imprensa, Maduro afirmou que os navios de guerra, além de um submarino, “apontam” para o território venezuelano e portam, no total, 1.200 mísseis, também todos direcionados à Venezuela.

Ele chamou o envio das embarcações de “a maior ameaça à América Latina do último século”.

Em meados de agosto, governo de Donald Trump enviou navios de guerra, um submarino e aviões espiões para perto da costa da Venezuela com o argumento de que se trata de uma operação contra cartéis de drogas da América Latina.

Mas há muitas especulações sobre uma possível intervenção contra o regime de Maduro. Oficialmente, o governo Trump não nega nem confirma a possibilidade.

Na entrevista coletiva, o venezuelano também chamou a incursão de Washington de “criminosa e imoral”.

A operação dos EUA
  • Pelo menos sete navios dos EUA foram enviados para o sul do Caribe, incluindo um esquadrão anfíbio, além de 4.500 militares e um submarino nuclear. Aviões espiões P-8 também sobrevoaram a região, em águas internacionais.
  • A operação se apoia no argumento de que Maduro é líder do suposto Cartel de los Soles, classificado pelos EUA como organização terrorista.
  • Os EUA consideram o presidente venezuelano um fugitivo da Justiça e oferecem recompensa de US$ 50 milhões por informações que levem à prisão dele.
  • A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, se recusou a comentar objetivos militares, mas disse que o governo Trump vai usar “toda a força” contra Maduro.
  • O site Axios revelou que Trump pediu um “menu de opções” sobre a Venezuela. Autoridades ouvidas pela imprensa americana não descartam uma invasão no futuro. Veja detalhes mais abaixo.
  • Enquanto isso, Caracas vem classificando a movimentação como uma “ameaça” e mobilizando militares e milicianos para se defender de um possível ataque.

Analistas ouvidos pela agência de notícias Reuters avaliam que a frota enviada ao sul do Caribe é desproporcional para uma simples ação contra o tráfico. Um esquadrão anfíbio, por exemplo, poderia ser usado para uma invasão terrestre.

O doutor em Ciência Política pelo IUPERJ Maurício Santoro, colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil, avalia que, em um primeiro momento, uma invasão terrestre pode ser inviável, mas um bombardeio é possível.

“É uma situação muito semelhante àquela do Irã, alguns meses atrás. O volume de recursos militares que os Estados Unidos transferiram para o Oriente Médio naquela ocasião, e agora para o Caribe, são indicações de que eles estão falando sério”, disse.

“Não é simplesmente um blefe. Há preparação para algum tipo de intervenção militar.”

O que está por trás da operação

Os Estados Unidos afirmam que a operação pretende bloquear a entrada de drogas no país. No entanto, o Relatório Mundial sobre Drogas de 2025 da ONU aponta que as principais substâncias consumidas pelos americanos não vêm da Venezuela.

🛢️Petróleo: Dados do Relatório Mundial de Energia de 2025 indicam que a Venezuela continua sendo o país com as maiores reservas de petróleo do mundo, com 302,3 bilhões de barris. Os Estados Unidos aparecem em 9º lugar no ranking, enquanto o Brasil ocupa a 15ª posição.

  • Em 2023, antes de ser reeleito, Trump disse que, se tivesse vencido as eleições de 2020, teria aproveitado a crise na Venezuela para “tomar” o país e pegar “todo aquele petróleo”.

🫵 Influência: A Venezuela mantém proximidade com a China e a Rússia. Esses dois países reconheceram a vitória de Maduro nas eleições presidenciais de 2024, apesar de o pleito ter sido fortemente questionado por grande parte da comunidade internacional.

  • “Uma eventual intervenção americana na Venezuela seria também uma mensagem política para a China e para a Rússia, dizendo: ‘Não se metam por aqui. A América Latina não é um lugar para vocês’”, afirma Santoro.
  • O Irã também é um forte aliado da Venezuela e parabenizou Maduro pela reeleição no ano passado.

“A Venezuela, nesse sentido, é a tempestade perfeita do ponto de vista retórico, porque junta todos esses fatores para ter grande aceitação nos EUA. Tem a questão do petróleo, tem a questão da China e da Rússia e tem a questão do crime organizado.”

Perfil da Venezuela — Foto: Bruna Azevedo/g1
Perfil da Venezuela — Foto: Bruna Azevedo/g1
Maduro pode cair?

Na sexta-feira (29), com base em fontes da Casa Branca, o site Axios revelou que os conselheiros mais próximos de Trump ainda não têm certeza se a atual operação militar no Caribe visa provocar uma mudança de regime na Venezuela.

Segundo a reportagem, Trump pediu um “menu de opções” e ainda deve tomar uma decisão. As fontes negaram descartar uma invasão, mas consideram que, no momento, ela é improvável.

O Axios diz que uma das hipóteses em discussão seria um ataque aéreo contra instalações ligadas à produção de cocaína ou a cartéis. Outra possibilidade mencionada é o uso de drones contra o próprio Maduro — considerada menos plausível por ora.

Em um provável ataque dos EUA, Santoro avalia que a capacidade defensiva da Venezuela seria muito limitada. O arsenal militar venezuelano é defasado e pequeno em comparação ao poderio americano. Veja a seguir.

Poderio militar da Venezuela. — Foto: Gui Sousa/Equipe de arte g1
Poderio militar da Venezuela. — Foto: Gui Sousa/Equipe de arte g1

Para Santoro, a alternativa provável de ataque dos EUA seria uma combinação de bombardeios com mísseis contra instalações militares e, até mesmo, contra a infraestrutura petrolífera.

“Também existe a possibilidade de ações de forças especiais para capturar autoridades venezuelanas.”

Segundo o professor, a reação a um bombardeio seria “muito forte” em toda a América Latina. Ele avalia que grandes países da região, como Brasil, México e Colômbia, tenderiam a apoiar a defesa da soberania venezuelana, mesmo que seus governos tenham reservas em relação a Maduro.

Ao mesmo tempo, a operação poderia expor divisões na região. Alguns países declararam apoio à classificação do Cartel de los Soles como organização terrorista: Argentina, Equador, Paraguai e Guiana seguiram os Estados Unidos nesse posicionamento. Trinidad e Tobago, que fica muito próxima da Venezuela, também afirmou apoiar a ação militar americana.

Internamente, Santoro considera que o regime de Maduro poderia sair enfraquecido caso os EUA provocassem danos econômicos graves que levassem o país a uma nova crise.

“Seria visto como um governo que fracassou em sua tarefa mais básica: defender a pátria e a soberania”, afirma Santoro.

Reação venezuelana

Maduro aparece fardado durante visita a tropas em 28 de agosto de 2025 — Foto: Palácio Miraflores

Diante da presença militar dos EUA no Caribe, o governo venezuelano enviou uma carta à ONU pedindo ajuda. No documento, Maduro classificou a ofensiva como “ameaça gravíssima” e solicitou que a organização pressione Washington a respeitar a soberania da Venezuela.

“A humanidade e esta organização não podem permitir que, em pleno século XXI, ressurjam políticas de força que ponham em risco a paz e a segurança internacional”, diz o texto.

A carta foi enviada ao secretário-geral da ONU, António Guterres, na quarta-feira (27). As Nações Unidas ainda não se pronunciaram sobre o assunto.

Em meio às tensões, Maduro também apareceu vestindo uma farda militar durante visita a tropas. Ele afirmou que o país está “mais preparado para defender a paz, a soberania e a integridade territorial” diante do que chamou de “guerra psicológica” dos EUA.

Na semana passada, o venezuelano já havia anunciado a mobilização de 4,5 milhões de milicianos para proteger o país. O governo também enviou 15 mil militares para a fronteira com a Colômbia.

FONTE: Por G1

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