O nível de cinco dos seis principais rios do Amazonas já ultrapassa o registrado no mesmo período do ano anterior, segundo levantamento feito pelo g1 com dados do Painel de Monitoramento Hidrometeorológico da Defesa Civil do Amazonas. Devido à cheia, dois municípios do estado já decretaram situação de emergência.
💧O levantamento mostra que, na terça-feira (25), os rios Negro, Solimões, Purus, Madeira e Amazonas estavam, pelo menos, 1 metro acima do nível registrado no mesmo dia em 2024. A maior diferença foi observada no Rio Purus, cuja cota superou em 5,44 metros o nível atingido no ano anterior.
Comparativo do nível dos rios no Amazonas
Cotas registradas em 21 de março de 2025Nível do rio em metrosRio NegroRio SolimõesRio PurusRio MadeiraRio Amazonas2024202551015202530
Fonte: Painel de Monitoramento Hidrometereológico da Defesa Civil do Amazonas
As medições foram realizadas nos seguintes municípios, monitorados pelo Painel de Monitoramento Hidrometeorológico da Defesa Civil do Amazonas:
- Manaus – Rio Negro
- Itacoatiara – Rio Amazonas
- Tabatinga – Rio Solimões
- Boca do Acre– Rio Purus
- Humaitá– Rio Madeira
➡️ O único entre os seis principais rios do estado que não está com o nível acima do registrado em 2024 é o Rio Juruá. De acordo com a medição em Carauari, o rio alcançou 27,46 metros na terça-feira, ficando apenas sete centímetros abaixo do nível registrado no ano passado.
O cenário levou a Prefeitura de Humaitá a decretar situação de emergência na quarta-feira (19). Na comunidade do Alto Crato, zona rural do município, a água já invadiu estradas, dificultando o acesso das crianças às escolas da região.
“Eu já sabia que a água tinha passado na pista, então eu vim de carro para averiguar se eu conseguia passar. As crianças ficaram em casa já arrumadas e quando cheguei aqui vi que a gente não ia conseguir passar”, disse o vidraceiro Welton Soares.
Em Humaitá, o transporte escolar é responsável por buscar e deixar as crianças, mas em dias de chuva, o veículo não consegue trafegar pela estrada.
“Se for olhar, o calendário tem mais falta do que presença deles por conta do acesso. É bem difícil mesmo”, relatou a agricultora Léia Garcia, mãe de quatro jovens.
Em Boca do Acre, a cheia já provoca alagamentos e transtornos à população. De acordo com a Defesa Civil do município, o rio começou a transbordar em 16 de março. A cheia do Rio Purus já atingiu mais de 2 mil famílias na localidade. A situação levou a prefeitura a decretar situação de emergência na segunda-feira (24).
O município está realizando ações humanitárias, com 1.200 cestas básicas entregues até o momento, além da distribuição diária de mais de 30 mil litros de água potável.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2025/W/T/DcIYjZT36ZBqcoT8KWgw/cheia-humaita-2025.jpeg)
As causas do aumento no nível dos rios
Pesquisadores do Laboratório de Modelagem do Sistema Climático Terrestre da Universidade do Estado do Amazonas (Labclim/UEA) estão usando dados da Agência Nacional de Águas (ANA) e o diagnóstico realizado pelo Serviço Geológico Brasileiro (SGB) para monitorar o comportamento dos rios durante o início da cheia.
As informações tem o objetivo de auxiliar áreas como agricultura, transporte, pecuária, produção industrial, entre outros setores do Amazonas.
🌧️ Segundo um dos pesquisadores envolvidos no projeto, Leonardo Vergasta, as causas para o aumento no volume dos rios em relação a 2024 se dá pelo conhecido Inverno Amazônico, que vem causado chuvas acima da média na Região Norte, tendência que deve seguir até o fim de março.
O especialista destaca que a atuação do fenômeno La Niña, que provoca fortes pancadas de chuva na região Norte do país e também em regiões de rios no Peru e Bolívia, está sendo determinante para o comportamento dos rios do estado.
“A gente teve aí no início de 2025 a atuação do efeito La Niña, que é o resfriamento das águas do pacífico equatorial, então a gente tem um aumento das intensidades de chuva na região, e coincidiu com nosso período chuvoso, então a partir de fevereiro toda a bacia amazônica teve chuvas acima da normalidade”, explicou o pesquisador.
A situação expõe um contraste no estado, que no ano passado enfrentou um colapso ambiental histórico, com uma seca extrema pelo segundo ano consecutivo.
“Basicamente os eventos de seca e cheia dentro da bacia amazônica estão relacionados principalmente com os modos de varrição oceânica. No entanto eu destaco que o efeito do desmatamento desordenado ele pode acabar agravando fenômenos principalmente relacionados a seca”, relata Vergasta.
Apesar dos últimos eventos ambientais extremos, o professor explica que, mesmo com essa visível boa recuperação dos rios, o Amazonas não deve passar por uma cheia recorde neste ano.
“No entanto, eu ressalto que as inundações ocorrem de formas repentinas e rápidas, então não deve ser um tipo de evento que venha trazer recordes. A expectativa é que partir do mês de abril, as chuvas se concentrem na porção Centro-Norte da bacia amazônica e já em maio, a expectativa é de que voltem à normalidade”, completa o pesquisador.
FONTE: Por G1 AM