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Emoção de sobreviventes e embates entre as partes marcam 1ª semana de júri da boate Kiss; veja principais momentos

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Depoimentos de sobreviventes marcaram primeiros dias do júri da Kiss em Porto Alegre — Foto: Juliano Verardi/Imprensa TJ-RS

Julgamento dos quatro réus pelo incêndio que vitimou 242 pessoas em 2013, em Santa Maria, entra no 8º dia.

júri da boate Kiss, o maior da história do Judiciário do Rio Grande do Sul, completa uma semana na quarta-feira (8), marcado pela emoção nos depoimentos de sobreviventes e pelas discussões entre juiz, acusação e defesas. O g1 relembra os principais momentos do julgamento, que deve se estender até a próxima semana.

Nos próximos dias, os quatro réus devem ser ouvidos. Posteriormente, acusação e defesas partirão para os debates que antecedem a definição da sentença, seja a absolvição ou a condenação dos acusados por parte dos jurados.

Antes disso, porém, os sobreviventes foram ouvidos. Em qualquer júri, há espaço para a manifestação das vítimas. Como o incêndio da Kiss deixou 636 feridos, além de 242 mortos, não seria possível ouvir todos. Assim, cada parte envolvida no processo pode indicar algumas pessoas que viveram a tragédia do dia 27 de janeiro de 2013, em Santa Maria, na Região Central do RS.7

Emoção

O primeiro dia de júri emocionou os presentes, com os depoimentos de duas sobreviventes do incêndio.

Uma funcionária da Kiss e uma jovem que estava na festa relataram como fugiram do fogo e falaram das sequelas sofridas. Kátia Giane Pacheco Siqueira teve 40% do corpo queimado e recordou dos momentos de desespero: “comecei a gritar lá dentro que eu não queria morrer”. Já Kelen Giovana Leite Ferreira mostrou a prótese que usa, pois teve parte da perna amputada em razão das lesões.

“A última vez que eu corri foi para tentar me salvar da morte”, disse.

Primeiro dia da Kiss teve o depoimento da sobrevivente Kelen Ferreira — Foto: MP-RS/Divulgação
Primeiro dia da Kiss teve o depoimento da sobrevivente Kelen Ferreira — Foto: MP-RS/Divulgação

O depoimento do DJ Lucas Cauduro Peranzoni também foi marcado pela emoção. O sobrevivente não conteve as lágrimas ao ser questionado sobre o motivo dele não ter conseguido ajudar outras pessoas a saírem da boate em chamas.

“Eu desmaiei. Caí e fui muito pisoteado. Alguém me tirou de lá”, contou.

Sobreviventes do incêndio se encontraram nos corredores do tribunal durante o quarto dia de audiências. “Muita gente morreu sem saber o que estava acontecendo”, disse Cristiane dos Santos Clavé, que estava na festa.

No domingo (5), ocorreu um dos momentos mais marcantes do julgamento. O jovem Delvani Brondani Rosso, de 29 anos, relembrou dos três amigos que perdeu naquela noite, citou a “despedida” da família que pensou enquanto tentava deixar a boate e mostrou as cicatrizes das queimaduras.

“Quando eu fui caindo, eu fui me despedindo… da minha família, dos meus amigos. Pedi perdão”, afirmou Delvani.

Cerca de 15 familiares de vítimas que assistiam ao júri presencialmente deixaram a sala de audiências emocionadas durante o depoimento do rapaz.

Sobreviventes e testemunhas também foram ouvidos no sexto e no sétimo dia de sessão.

Embates

O segundo dia de júri foi um dos mais agitados no Foro Central I, em Porto Alegre. Logo no início da sessão, o juiz Orlando Faccini Neto repreendeu um advogado por repetir uma pergunta a uma pessoa ouvida. “Vamos prestar mais atenção ao depoimento da vítima”, cobrou.

Dois momentos de tesão entre o magistrado e o advogado Jader Marques, que representa o ex-sócio da Kiss Elissandro Spohr, ocorreram nesse dia. Durante as oitivas, o defensor levou o réu para o centro do plenário e perguntou se uma sobrevivente sentia “ódio” dele.

“Isso não é adequado porque nós estamos em um sistema de Justiça que busca, efetivamente, racionalizar aquilo que as vítimas sentem. […] Eu considero — digo isso muito respeitosamente, mas vai ficar registrado — eu considero apelativo e desnecessário isso”, reagiu Faccini Neto.

Marques, mais tarde, protestou contra o tempo de pausa para o jantar proposto pelo magistrado. O advogado disse que o intervalo era curto para que a equipe de defesa buscasse alimentação fora do tribunal, no que o juiz respondeu: “faça a sua comida e traga de casa”.

No mesmo dia, um promotor discutiu com um advogado e uma testemunha respondeu com ironia a pergunta de um defensor sobre a toxicidade da espuma de isolamento acústico utilizada na boate. O advogado Mário Cipriani, para comprovar a tese de que a espuma, em si, não é inflamável, pergunta à testemunha se pode fazer o que quiser com ela – inclusive comê-la.

“Vai lhe dar uma dor de barriga terrível”, brincou Pedroso.

Advogados, promotores e juiz discutiram durante audiências da Kiss — Foto: Juliano Verardi/Imprensa TJ-RS
Advogados, promotores e juiz discutiram durante audiências da Kiss — Foto: Juliano Verardi/Imprensa TJ-RS

No dia seguinte, o advogado Jean Severo, que defende o réu Luciano Bonilha, foi advertido pelo juiz durante um depoimento. Os familiares de vítimas que acompanham o júri no plenário também reagiram, criticando o advogado.

“Hoje, não está fácil. A próxima que você me fizer, você não vai ficar mais aqui”, alertou o juiz.

Também no terceiro dia, uma testemunha foi convertida em informante após defesa alegar que filha postou “apodreçam na cadeia” em uma rede social.

Uma polêmica também marcou o primeiro final de semana do júri. A pedido dos jurados, Orlando Faccini Neto autorizou o acesso à televisão para que assistissem à parte do jogo entre Corinthians e Grêmio pelo Campeonato Brasileiro durante um intervalo. Após a repercussão do assunto, o magistrado ressaltou que não iria acompanhar o jogo: “Eu não vou ver jogo, os jurados pediram para ver”.

Referências musicais também foram frequentes no júri, com Orlando Faccini Neto demonstrando seu conhecimento na área.

FONTE: Por G1

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