Casada com um dos chefes do grupo criminoso Comando Vermelho, Luciane Barbosa Farias, que se reuniu com o secretário do Ministério da Justiça, se mostra nas redes sociais como uma defensora da luta pelos direitos dos presos do sistema carcerário amazonense. Estudante de direito, a mulher de Clemilson dos Santos Farias, o “Tio Patinhas“, é considerada a “primeira-dama do tráfico no Amazonas”.
Preso, “Tio Patinhas” foi condenado a mais de 31 anos por envolvimento com o tráfico de drogas e outros crimes. Apontada pelo Ministério Público do Estado do Amazonas (MPAM) como responsável por movimentar o dinheiro do marido, Luciane também foi condenada a dez anos, mas responde em liberdade.
Presidente da Associação Instituto Liberdade do Amazonas, Luciane Barbosa posta com frequência sobre sua rotina de eventos em defesa dos direitos dos internos do sistema carcerário, como manifestações ou acertos de parcerias em órgãos públicos, como o Sine Manaus.
Neste ano, ela conseguiu entrar nas dependências do Ministério da Justiça, acompanhando uma delegação de mulheres advogadas.
Luciane é mãe e casada há 11 anos com “Tio Patinhas” – considerado um dos homens mais perigosos do Amazonas e líder de uma das maiores organizações criminosas do estado.
Ativa nas redes sociais, ela tem mais de 15 mil seguidores. Além de fotos com a filha e amigas, também posta registros de visitas à Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), em Manaus, e à Câmara dos Deputados, em Brasília.
Papel na organização criminosa
Luciane e “Tio Patinhas” já foram condenados por envolvimento com o tráfico e outros crimes Amazonas. Ele está preso, e ela responde em liberdade.
O Ministério Público do Estado do Amazonas (MPAM) afirma ter diversos indícios que demonstram que Luciane e Clemilson possuem a ligação com o tráfico de drogas e a organização criminosa liderada por ele. O órgão fez a acusação em uma apelação criminal do casal, em 9 de outubro de 2023.
Segundo o MP, Luciane usou o dinheiro adquirido por Clemilson, por meio do tráfico de drogas, para comprar um carro, um apartamento de luxo em Pernambuco e abrir um salão de beleza.
Além disso, o documento destaca que Luciane era a responsável por acobertar os crimes do marido e utilizar o dinheiro ilícito para custear uma vida luxuosa. “Desta feita, as provas são irrefutáveis no sentido de indicar os apelados como membros de uma facção criminosa, os quais passaram a atuar de maneira autônoma, envolvidos em outras negociações”, disse o MP.
No documento, a defesa negou todas as acusações e disse que Luciane adquiriu os bens com o dinheiro do salão de beleza e do trabalho de Clemilson com frete de cargas.
Após a apelação do MP-AM, Luciane foi condenada a 10 anos de prisão por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e organização criminosa.
No entanto, a defesa dela afirmou ao g1 que a mulher nunca foi presa, apenas denunciada pelo Ministério Público, e em seguida, absolvida em primeira instância, por não haver provas suficientes para condenação.
O Ministério Público recorreu da absolvição e, agora, o processo tramita na segunda instância.
Enquanto isso, a defesa afirmou que a condenação não é definitiva e cabe recurso. Luciane responde ao processo em liberdade.
Já Clemilson foi preso pela primeira vez em 2018, no apartamento do casal, em Pernambuco. Na época, ele foi apontado como o mandante de vários homicídios em Manaus, motivados pelo controle do tráfico de drogas.
Clemilson foi preso quando deixava o condomínio, ao lado da esposa, e não ofereceu resistência. De acordo com a investigação, dentro do apartamento, foram apreendidos diversos equipamentos de informática e cadernos com anotações do comércio do tráfico no Amazonas.
Em janeiro de 2022, a Justiça do Amazonas revogou a prisão do “Tio Patinhas”. Segundo a juíza Rosália Guimarães Sarmento, a denúncia contra ele foi julgada improcedente por fragilidade de provas. Em dezembro do mesmo ano, Clemilson foi preso novamente e, desde então, não foi solto.
Em outubro de 2023, Clemilson foi condenado a 31 anos e 7 meses de prisão por se associar e custear o tráfico de drogas, organização criminosa e lavagem de dinheiro. A Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) confirmou, nesta segunda-feira (13), que ele está preso, mas não informou em qual unidade prisional.
Reunião no Ministério da Justiça
Luciane Barbosa Farias fez duas visitas ao Ministério da Justiça em 2023.
Segundo o blog da Andréia Sadi apurou, o secretário Nacional de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Elias Vaz, recebeu um pedido da advogada Janira Rocha, ex-deputada estadual do Rio de Janeiro pelo PSOL para receber uma delegação de mulheres, e Luciane estava entre elas.
Em nota, o Ministério da Justiça disse que atendeu solicitação de agenda da Associação Nacional da Advocacia Criminal), com a presença de várias advogadas e que Luciane não foi a requerente da audiência, mas acompanhou o grupo. (Leia a nota completa no final da matéria)
Sobre a atuação do Setor de Inteligência, disse que era impossível a detecção prévia da acompanhante “uma vez que a solicitante da audiência era uma entidade de advogados, e não a cidadã mencionada no pedido de nota”.
A Anacrim afirmou que não solicitou reunião com o Ministério da Justiça e que apenas o presidente nacional e os presidentes estaduais podem fazer agendamentos do tipo. Além disso, disse que não há ofícios de agendamento da reunião.
Nos bastidores, assessores do ministro da Justiça, Flávio Dino, consideraram o episódio um erro de Vaz, que “deveria ter checado” a lista de participantes.
Em nota, Elias Vaz confirmou que a reunião foi solicitada pela ex-deputada Janira Rocha, que é vice-presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da Anacrim-RJ. (Leia a nota completa no final da matéria)
Na ocasião, o secretário disse que não recebeu documentos de casos do Amazonas e que Luciane se limitou a falar sobre supostas irregularidades no sistema penitenciário amazonense.
O caso vai ser analisado numa reunião nesta segunda-feira (13).
Nota do Ministério da Justiça
No dia 16 de março, a Secretaria de Assuntos Legislativos (SAL) atendeu solicitação de agenda da ANACRIM (Associação Nacional da Advocacia Criminal), com a presença de várias advogadas.
A cidadã mencionada no pedido de nota não foi a requerente da audiência, e sim uma entidade de advogados. A presença de acompanhantes é de responsabilidade exclusiva da entidade requerente e das advogadas que se apresentaram como suas dirigentes.
Por não se tratar de assunto da pasta, a ANACRIM, que solicitou a agenda, foi orientada a pedir reunião na Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).
A agenda na Senappen e da ANACRIM aconteceu no dia 2 de maio, quando foram apresentadas reivindicações da ANACRIM.
Não houve qualquer outro andamento do tema.
Sobre a atuação do Setor de Inteligência, era impossível a detecção prévia da situação de uma acompanhante, uma vez que a solicitante da audiência era uma entidade de advogados, e não a cidadã mencionada no pedido de nota.
Todas as pessoas que entram no MJSP passam por cadastro na recepção e detector de metais.
Nota do secretário Nacional de Assuntos Legislativos Elias Vaz
Informo que, no dia 14 de março, recebi solicitação de audiência por parte da Sra. Janira Rocha, ex-deputada estadual no Rio de Janeiro e vice-presidente da Comissão de Assuntos Penitenciários da ANACRIM-RJ.
Na reunião, que foi realizada no dia 16 de março, a Sra. Janira Rocha veio acompanhada das senhoras Ana Lúcia, mãe do jovem Lucas Vinícius, morto em 2022; Luana Lima, mãe de Lara Maria Nascimento, morta em 2022; e de Luciane Farias, do estado do Amazonas.
Durante a audiência, das mães Ana Lúcia e Luana Lima, escutei reinvindicações pedindo celeridade nas investigações sobre a morte dos filhos. Na ocasião, recebi os documentos que seguem em anexo, nenhum tratando sobre casos ocorridos no estado do Amazonas. Quanto à Sra. Luciane, ela estava como acompanhante da advogada Janira Rocha, e se limitou a falar sobre supostas irregularidades no sistema penitenciário. Por esta razão, foi sugerido à advogada Janira Rocha que procurassem a Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN).
Tenho uma longa trajetória parlamentar e política, sempre com a marca da seriedade, e atendi a advogada Janira Rocha e acompanhantes por conhecer a citada profissional e ela desejar falar sobre vítimas de homicídios. Repudio qualquer envolvimento abjeto e politiqueiro do meu nome com atividades criminosas.
FONTE: Por G1 AM