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Desmatamento no Amazonas cresce 67,4% nos cinco primeiros meses de 2021, aponta Inpe

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Drone flagrou o desmatamento de uma área de difícil acesso em Itanhaém — Foto: Divulgação/Prefeitura de Itanhaém

Comunidade científica afirma que aumento é resultado da ‘fragilidade’ de atuais políticas públicas para combate à atividade ilegal.

De janeiro a maio deste ano, um total de 615.95 km² foram desmatados no Amazonas, ou seja, 67,4% a mais que o total desmatado no mesmo período do ano passado, quando foram desmatados 367.79 km² de área.

Com esse resultado, o Amazonas é o segundo estado mais desmatado da região Norte, atrás apenas do Pará, que teve 949.71 km² de área desmatada nos cinco primeiros meses deste ano.

Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e mostram, ainda, que o município de Lábrea é o mais desmatado em todo o Amazonas. Em toda a Amazônia, o total de área desmatada chega a 2.547,7 km², e o município é o terceiro mais desmatado em toda a Região.

Na análise do geógrafo e ambientalista, Carlos Durigan, diretor da WCS Brasil (Associação Conservação da Vida Silvestre), essa tendência de aumento acontece porque falta um controle de gestão sobre a exploração de terras.

“O aumento do desmatamento tem uma relação direta com a fragilização das ações de fiscalização e a ausência de um plano estratégico para combater ilícitos na região. Falta-nos liderança de gestão pública no estabelecimento de ações voltadas à construção de uma agenda de desenvolvimento sustentável”, disse.

Com quase 30 anos dedicados a projetos voltados à conservação e manejo da biodiversidade e de paisagens naturais na Amazônia, Durigan explicou, ainda, que só seria possível reduzir esses números se houvesse um fortalecimento de ações de monitoramento e fiscalização.

“É preciso implementar o controle preconizado pelo Código Florestal através de Cadastro Ambiental Rural (CAR), monitorando a manutenção e restauração de reservas legais e ainda fortalecer a fiscalização e controle das terras públicas, coibindo a ocupação ilegal e a grilagem”, concluiu.

O Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um registro público eletrônico, obrigatório para todos os imóveis rurais. Esta semana, o CAR recebeu uma nova plataforma de análise de dados, que vai usar o sensoriamento remoto para checar informações declaradas de ocupantes e proprietários de terras.

O registro serve para integrar as informações ambientais referentes à situação das áreas de preservação permanente (APP); das áreas de reserva legal; das florestas e dos remanescentes de vegetação nativa; das áreas de uso restrito e das áreas consolidadas das propriedades e posses rurais do país.

Impactos em nível global
Desmatamento na Amazônia atingiu em 2020 o maior índice dos últimos 12 anos — Foto: Getty Images via BBC
Desmatamento na Amazônia atingiu em 2020 o maior índice dos últimos 12 anos — Foto: Getty Images via BBC

A Amazônia é uma grande vitrine do Brasil para o mundo e, por esse motivo, o alto índice de desmatamento é um problema não só para o Amazonas, mas é um problema de nível global, segundo especialistas consultados pelo G1.

O aumento do desmatamento tende a gerar o que os ambientalistas classificam como ‘imagem negativa’ para o país, resultando na queda de exportações de produtos brasileiros e na diminuição da presença do Brasil em mercados internacionais.

Segundo o secretário-executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini, manter as florestas preservadas, além de contribuir com a questão ambiental, daria mais visibilidade ao país. Márcio faz parte de uma rede que conta com 68 organizações da sociedade civil brasileira que discutem mudanças climáticas e planejam alternativas voltadas à preservação ambiental.

“Cada vez que o desmatamento aumenta aqui, aumentam as restrições e as críticas ao Brasil e ao mercado brasileiro no mundo.”

“O contrário também acontece. Cada vez que o desmatamento diminui no Brasil, a gente tem um favorecimento da imagem no Brasil no mercado internacional. Portanto, diminuir esses números é extremamente importante”, destacou.

Márcio criticou a atual política ambiental do país, e lembrou o episódio em que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, foi acusado pela Polícia Federal de participar de um esquema de facilitação de contrabando de madeira ilegal, em maio deste ano.

“É um governo que promove uma série de medidas rotineiramente para desregulamentar a área e a agenda ambiental e enfraquecer a capacidade do estado de combater, principalmente, o crime ambiental”, afirmou.

“Essa situação toda gerada pelo governo tem incentivado a ilegalidade na Amazônia, e a ilegalidade faz parte majoritária do desmatamento”.

Os pesquisadores citaram, também, que a Amazônia exerce um papel fundamental para o equilíbrio do clima no país. E que combater o desmatamento na região, contribui não só para o avanço global, mas também para manter em ordem todo o ecossistema do país.

Em outras palavras, as chuvas que caem na Amazônia repercutem na agricultura do país, abastecem os reservatórios das hidrelétricas para geração de energia e abastecem os reservatórios de água que chega na torneira da população dessas regiões.

Desmatamento por Município
Operação combate desmatamento ilegal no Sul de Lábrea — Foto: Ipaam/Divulgação
Operação combate desmatamento ilegal no Sul de Lábrea — Foto: Ipaam/Divulgação

Os dados disponíveis no Inpe, mostram, ainda, o ranking por estado. Na lista, o município de Lábrea, que no mesmo período do ano passado era o segundo mais desmatado, assumiu a liderança no ranking, seguido de Apuí, que era o primeiro mais desmatado no mesmo período de 2020.

Municípios mais desmatados, em 2021, no AM:

  1. Lábrea/AM: 185.60 km²
  2. Apuí/AM: 146.15 km²
  3. Novo Aripuanã/AM: 75.73 km²
  4. Humaitá/AM: 44.06 km²
  5. Canutama/AM: 40.97 km²
  6. Manicoré/AM: 34.57 km²
  7. Maués/AM: 28.49 km²
  8. Boca do Acre/AM: 26.29 km²
  9. Tapauá/AM: 14.72 km²
  10. Pauini/AM: 6.92 km²

Municípios mais desmatados, em 2020, no AM

  1. Apuí/AM: 110.62 km²
  2. Lábrea/AM: 107.38 km²
  3. Boca do Acre/AM: 27.86 km²
  4. Humaitá/AM: 27.39 km²
  5. Canutama/AM: 22.55 km²
  6. Novo Aripuanã/AM: 18.11 km²
  7. Manicoré/AM: 17.00 km²
  8. Pauini/AM: 6.96 km²
  9. Borba/AM: 4.32 km²
  10. 10º – Utai/AM: 2.58 km²
Alerta para queimadas

Enquanto o desmatamento aumenta, no Amazonas, o número de queimadas apresenta uma queda, segundo os dados do Inpe. De janeiro a maio de 2021, foram registrado 4.082 focos de queimadas. No ano passado, neste mesmo período, foram 5.655 focos de queimadas.

Apesar disso, os especialistas alertaram que outra consequência grave: o desmatamento quase sempre vem acompanhado de queimadas. A floresta para ser queimada, precisa estar desmatada. Ou seja, o desmatamento é sempre uma das etapas de devastação florestal, que abre caminhos para que outras sejam feitas.

No ano passado, o acumulado de focos de incêndio na Amazônia de janeiro a setembro foi o maior desde 2010. Alinhado a isso, o desmatamento na região também atingiu recordes. O desmatamento alto preocupa, porque as áreas desmatadas, poderão queimar durante o verão amazônico, caso não exista controle.

O que diz o governo?

Sobre o aumento do desmatamento no Amazonas, o Governo, por meio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (SEMA) e do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) informou, em nota, que tem atuado desde o início de abril, na repressão ao desmatamento ilegal, por meio da Operação Integrada Tamoiotatá.

Atualmente, a Operação está em sua quinta fase de ações no Sul do Amazonas, com foco nas cidades de Lábrea e Apuí, que figuram entre os municípios mais vulneráveis da Amazônia Legal, em decorrência de ocupações irregulares em áreas públicas, em especial, em áreas da União. O órgão informou, ainda, que realiza a reavaliação e readequação das estratégias em campo, no intuito de reduzir o crescimento das ilegalidades.

O governo disse ainda, que em reunião junto ao Conselho Nacional da Amazônia, em 1º de junho, o Estado sinalizou ao vice-presidente, Hamilton Mourão, a necessidade de integração das agendas de combate junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), para fortalecer as ações de combate.

Além disso, o governo afirmou ter obtido a aprovação de R$11,5 milhões do Banco Alemão de Desenvolvimento KFW, para contratar 240 brigadistas florestais, para reforçar a atuação estadual contra as queimadas, normalmente intensificadas a partir deste mês.

Parte do recurso também será usada para contratação de um serviço de monitoramento por drone, em tempo real, do desmatamento no Sul do Estado, a fim de auxiliar as equipes em campo pela Operação Tamoiotatá e, também, apoiar o Ipaam na autuação remota de infratores.

FONTE: Por Rebeca Beatriz, G1 AM

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