Ação apura envolvimento de funcionários do governo do Amazonas e da Secretaria de Saúde na prática de desvio de recursos.
A Operação Sangria teve início no ano passado para investigar supostas fraudes em licitações e desvios de verbas públicas no governo do Amazonas que deveriam ser usados no combate à Covid-19.
Entre os principais fatos investigados estão:
- a compra de respiradores por intermédio de uma loja de vinhos em 2020
- irregularidades na contratação de um estabelecimento de saúde para servir como hospital de campanha em janeiro de 2021
1ª fase: respiradores em loja de vinhos
Em junho de 2020, a Polícia Federal iniciou a investigação sobre o desvio de verbas no esquema de compra de respiradores, com dispensa de licitação, de uma importadora de vinhos.
Em uma manobra conhecida como triangulação, a empresa fornecedora de equipamentos de saúde, que já havia firmado contratos com o governo, vendeu respiradores para uma adega por R$ 2,480 milhões. No mesmo dia, a importadora de vinhos revendeu os equipamentos para o estado por R$ 2,976 milhões. Após receber valores milionários em sua conta, a adega os repassou integralmente à organização de saúde.
A investigação encontrou registros que comprovam a ligação entre agentes públicos e os empresários envolvidos na fraude.
Na primeira fase, o governador Wilson Lima foi alvo de mandado de busca e apreensão por suspeita de envolvimento no esquema de compra de respiradores, com dispensa de licitação, da importadora de vinhos.
Oito pessoas foram presas, após o fim dos prazos das prisões, os envolvidos nesta etapa foram colocados em liberdade até que o processo seja julgado. Na ocasião, a PF chegou a pedir a prisão de Lima, mas o Ministro Francisco Falcão, do STJ, disse que não se justificava.
- Simone Papaiz – Ex-secretária de Saúde do Amazonas, que segundo o ministério público, teria consolidado contratos superfaturados dos respiradores.
- Perseverando Trindade Garcia Filho – Ex-secretário Executivo de Saúde, que seria o ordenador de despesa, quem autorizava os pagamentos.
- Cristiano da Silva Cordeiro – Empresário, que teria emprestado dinheiro para Fabio Passos da empresa de vinhos, FJAP, para a compra dos ventiladores pulmonares.
- Fabio Jose Antunes Passos – Sócio proprietário da FJAP, que comprou os ventiladores da empresa Sonoar e revendeu para o estado com superfaturamento de preços.
- João Paulo Marques dos Santos – Ex-secretário adjunto de saúde, supostamente envolvido na aprovação de projetos ilegais dentro da secretaria de saúde.
- Alcineide Figueiredo – Ex-gerente de compras da SES, que teria intermediado o processo de compra dos respiradores junto à FJAP.
- Luciane Zuffo Vargas de Andrade – Sócia da Sonoar – empresa que encaminhou proposta dos 28 ventiladores para a Susam, mas vendeu para a empresa de vinhos.
Na segunda fase da Operação Sangria, em outubro de 2020, a Polícia Federal cumpriu mandado de busca e apreensão no gabinete do vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida. Segundo a PF, foram apreendidos materiais para a investigação que aponta fraudes e desvios na compra de respiradores para o estado. Ao longo das investigações, foram constatados indícios de que o vice-governador tinha gerência e influência direta nas decisões da pasta da Secretaria de Saúde.
Cinco pessoas foram alvos de mandados de prisão temporária na segunda etapa:
- Rodrigo Tobias – o ex-secretário de Saúde do estado que teria autorizado a compra de respiradores.
- Dayana Mejia – a ex-secretária executiva da pasta, que também teria atestado a compra dos respiradores.
- Ronald Gonçalo Caldas Santos – o engenheiro que teria atestado que os respiradores supririam a necessidade mesmo havendo indicações técnicas informando o contrário.
- Luiz Carlos de Avelino Júnior – marido da ex-secretária de Comunicação do estado. Sócio da Sonoar, ele teria usado a influência da esposa, a ex-secretária de comunicação do governo, Daniela Assayag, para a aquisição dos equipamentos
- Gutemberg Leão Alencar, apontado como “homem de confiança” do governador. Ele seria o representante do governo na reunião na Secretaria da Saúde que tratou da compra dos respiradores.
3ª fase: buscas para conseguir provas
Em novembro, a Polícia Federal cumpriu quatro mandados de busca e apreensão na terceira fase da Operação Sangria. Foram alvos de buscas endereços residenciais e profissionais e comerciais, inclusive a Secretaria de Estado de Saúde e a Secretaria da Casa Militar do Governo do Amazonas.
4ª fase: irregularidades no hospital Nilton Lins
Na quarta fase são investigadas supostas irregularidades na construção do hospital de Campanha Nilton Lins, em Manaus, usado para o combate à Covid-19. O atual secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, é alvo de mandado de prisão, mas ele não foi encontrado.
Foram detidos nesta fase da operação:
- Nilton Costa Lins Júnior – empresário dono do complexo hospitalar alugado pelo estado que serviu como hospital de campanha
- Sérgio José Silva Chalub – empresário que tem contratos com o governo do Amazonas para procedimentos de diagnóstico de imagem.
- Rafael Garcia da Silveira – empresário que tem contratos com o governo do Amazonas
- Frank Andrey Gomes de Abreu – empresário que tem contratos com o governo do Amazonas
- Carlos Henrique Alecrim John – empresário que tem contratos com o governo do Amazonas
FONTE: G1 AM