Estudo pretende identificar se existem diferenças nas vocalizações emitidas por botos de dentro da reserva de Balbina, em Presidente Figueiredo, e dos que vivem fora.
No Amazonas, pesquisadores estão estudando o comportamento vocal de botos-vermelhos que vivem isolados há mais de 30 anos em um reservatório no lago de Balbina, que fica no município de Presidente Figueiredo, distante 107 Km de Manaus.
Usando hidrofones e gravadores, os pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) registraram vocalizações desses animais, que serão analisadas e comparadas com o som emitido por populações de botos que vivem fora no lago. A ideia é verificar se há diferenças entre eles.
De acordo com a pesquisadora Vera da Silva, que coordena o estudo, botos podem emitir cerca de 14 tipos de sons, incluindo assobios.
A frequência desses sons podem variar, dependendo do tipo de comportamento dos animais e podem ser tanto agressivas, quanto de socialização.
“Usamos uma voadeira para os deslocamentos e para encontrar os botos e registrar os sons. Uma vez que os animais são localizados, nos aproximamos em baixa velocidade e o motor é desligado. Em sequência, um hidrofone é colocado na água para captar as ondas sonoras (sons produzidos), que são registradas em um gravador digital acoplado ao hidrofone e depois analisados”, detalhou.
Os estudos já são feitos há cerca de 10 anos no lago de Balbina. A última expedição feita pelos pesquisadores foi realizada em agosto desse ano.
Nela, a equipe também tem a expectativa de quantificar os botos que vivem na região. Vera conta que o processo de captação dos áudios é minucioso.
“Até o momento, foram feitas gravações somente dentro do reservatório de Balbina e registrados complexas estruturas e combinações de tipos de sons produzidos pelos botos, corroborando com estudos feitos em outras regiões e revelando a complexidade do repertório sonoro destes golfinhos. As próximas etapas são para coletar e analisar os sons da população de botos que fica a jusante da barragem e verificar se existem possíveis diferenças entre as populações das duas áreas estudadas”, explicou.
Conservação da espécie
Pesquisas do tipo influenciam diretamente a conservação dos botos na Amazônia, uma vez que no estado, botos-vermelhos ainda são usados no turismo, apesar de serem espécies em risco de extinção.
De acordo com Vera, as informações ajudam a médio e longo prazo e a forma como eles se adaptam aos reservatórios, considerando o alto número de hidrelétricas projetadas na região em que eles vivem.
“O conhecimento dos diferentes aspectos da biologia dos animais é importante para avaliar as necessidades de cada espécie e promover medidas de conservação com base na biologia da espécie e na evolução da comunicação deste animal, além de medir e avaliar possíveis impactos das atividades humanas sobre as populações de boto-vermelho e estabelecer um baseline para o uso de técnicas de monitoramento acústico passivo”, conclui.
FONTE: Por G1 AM