Áudios e documentos obtidos pelo Ministério Público do Rio de Janeiro indicam que policiais militares se vangloriavam ao receber propina de comerciantes para atuar como seguranças privados em diversos estabelecimentos de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Nesta terça-feira (1º), uma ação coordenada pelo Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública (GAESP/MPRJ) foi às ruas para cumprir 11 mandados de prisão e de busca e apreensão. Até o fim da manhã, nove PMs haviam sido presos.
“É até curioso, pitoresco, porque existem áudios que constam na investigação em que um dos denunciados se vangloria dizendo: ‘nós somos piores que milícia’”, afirmou Fábio Corrêa, coordenador do GAESP/MPRJ.
A ação contou com apoio da Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ) e da Corregedoria-Geral da Polícia Militar (CGPM). De acordo com as investigações, os policiais cobravam entre R$ 50 e R$ 300 por semana, a depender do porte do estabelecimento. Os locais protegidos incluíam lojas, farmácias, universidades, funerárias, restaurantes e até um posto do Detran.
“Havia uma nomenclatura usada entre eles: os comerciantes que pagavam eram chamados de ‘padrinhos’. Uma referência quase pitoresca, como num roteiro de cinema nacional”, acrescentou o promotor.
Os crimes ocorreram entre 2021 e 2024, período em que os policiais estavam lotados no 39º BPM (Belford Roxo). Parte dos investigados já havia sido transferida para outras unidades, como os batalhões de Niterói (12º BPM), Duque de Caxias (15º BPM), Mesquita (20º BPM), BPTur e até para a Prefeitura de Belford Roxo.
A investigação apontou que os PMs mantinham vínculos econômicos diretos com os comerciantes, em uma relação que violava os princípios da legalidade e moralidade no serviço público. Os denunciados vão responder na Justiça pelo crime de organização criminosa.
“Estamos falando de estabelecimentos dos mais variados tipos — desde lojas, depósitos de bebidas, supermercados, clínicas de saúde, funerárias e até um posto do Detran. O serviço prestado era ostensivo, com viaturas e policiais fardados, como se estivessem exercendo a segurança pública regular”, detalhou Corrêa.
Em nota, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro informou que apoiou a operação. Os presos foram levados para a sede da Corregedoria, onde passaram pelos trâmites administrativos e pelo exame de corpo de delito, antes de serem encaminhados à unidade prisional.
FONTE: Por CNN