Cleusimar Cardoso, mãe de Djidja Cardoso, declarou à Justiça que acredita que a filha morreu de depressão e não devido ao uso excessivo de cetamina. A droga sintética, utilizada tanto em humanos quanto em animais, pode causar alucinações e dependência. Djidja foi encontrada morta no final de maio em Manaus, e a polícia suspeita que a causa da morte tenha sido overdose devido ao uso indiscriminado da substância.
O g1 teve acesso ao depoimento de Cleusimar, que foi apresentado durante a audiência de instrução e julgamento no dia 4 de setembro. A audiência investiga Cleusimar, seu filho Ademar Cardoso, o ex-namorado de Djidja, Bruno Roberto, e outras sete pessoas por tráfico de drogas.
De acordo com a investigação, a família de Djidja criou o grupo religioso “Pai, Mãe, Vida”, que promovia o uso indiscriminado de cetamina. Cleusimar e seu filho estão presos, e o Ministério Público a acusa de estar no núcleo central do esquema de tráfico de entorpecentes.
Durante o depoimento de mais de 30 minutos, Cleusimar foi questionada pelo juiz Celso de Paula sobre o uso de cetamina, seu conhecimento sobre a droga e se ela injetava a substância em seus filhos. Cleusimar também abordou as cartas de Cristo e negou que a família estivesse envolvida em uma seita.
Ao contrário dos relatos do depoimento da mãe da ex-sinhazinha, o laudo preliminar do Instituto Médico Legal (IML) aponta que a morte Djidja foi causada por um edema cerebral que afetou o funcionamento do coração e da respiração dela. O laudo oficial ainda não foi divulgado pelas autoridades locais.
Durante as investigações, a polícia descobriu que Cleusimar, não apenas usava a cetamina, mas também começou a utilizar um livro chamado “Cartas de Cristo” e a realizar um culto baseado em uma interpretação equivocada das escrituras. A partir de então, eles começaram a recrutar outras pessoas, principalmente funcionários do salão de beleza da família.
Veja os principais pontos do depoimento:
- Cleusimar afirmou ter estudado sobre psicodélicos e como eles poderiam ajudar a tratar depressão e ansiedade.
- Declarou que as drogas provinham de raves e eram adquiridas através de aplicativos, sem conhecer as pessoas que as forneciam.
- Disse que “Pai, Mãe, Vida” não era uma seita, mas uma expressão usada por Jesus para se referir a Deus nas cartas.
- Mencionou que colocava as chamadas cartas de Cristo para os funcionários do salão, para orientá-los sobre como lidar com os clientes.
- Segundo ela, ao todo são 9 cartas, supostamente escritas por Jesus Cristo, que a família meditou por cerca de dois anos.
- Negou que seu filho Ademar tivesse estuprado uma namorada sob efeito de cetamina.
Questionada pelo promotor de justiça André Seffair sobre a causa da morte de sua filha, Cleusimar negou que Djidja tenha falecido devido ao uso de cetamina.
Ela afirmou que a filha era “muito depressiva”, com o quadro agravado após a morte da avó em junho de 2023 e devido a episódios de traição do então namorado, Bruno Roberto. Segundo Cleusimar, o relacionamento do casal era “conturbado”.
Cleusimar acrescentou que, além da cetamina, a filha também fazia uso de remédios controlados.
“A cetamina não foi a solução para Djidja, mas ela lutou contra a depressão usando cetamina. Não que a cetamina tenha causado a morte dela; na verdade, ela tomava altas doses de clonazepam, o que eu considero mais arriscado e perigoso do que a cetamina”.
Ela também revelou que começou a usar cetamina após a morte de sua mãe, em junho de 2023, e que a substância, junto com a maconha, ajudava no tratamento da ansiedade. Cleusimar explicou que pedia cetamina por meio de aplicativos e que nunca injetou a droga em seus filhos.
“Eles usavam a droga sozinhos. Eu usava em casa e não participava de negociações ou vendas. Apenas usava na minha mesa, para quem quisesse usar. Antes de começar, estudei sobre a cetamina”.
Cleusimar também mencionou que usava a cetamina para meditar sobre as chamadas “Cartas de Cristo”.
“Enquanto meditávamos nas cartas, isso nos deixava mais tranquilos, menos ansiosos e ajudava a prestar atenção nas palavras”, disse ela.
Por fim, Cleusimar expressou surpresa por estar presa, alegando que era apenas usuária de entorpecentes e que continuaria a meditar sobre as cartas de Cristo após sair da prisão.
“Intolerância religiosa é crime. Espero que ninguém me impeça de meditar as cartas de Cristo, que foram escritas por Jesus. Pretendo continuar com meus salões, minhas meditações e seguindo a palavra”, concluiu.
Mãe e irmão de Djidja continuam presos
A audiência de instrução sobre o caso, que investiga especificamente os delitos de tráfico de drogas e associação para o tráfico, iniciou na semana passada, de forma online. Na ocasião, a defesa dos réus ingressou com o pedido de relaxamento de prisão.
O juiz, no entanto, negou os pedidos formulados pela defesa de Ademar Cardoso, Cleusimar Cardoso, Hatus Silveira, José Máximo Silva de Oliveira e Sávio Soares Pereira. Os dois últimos são o dono da clínica veterinária que fornecia cetamina e seu sócio.
Na mesma decisão, o juiz concedeu liberdade provisória à ex-gerente do salão de Djidja, Verônica da Costa Seixas, mediante a aplicação das medidas cautelares, como, o uso de tornozeleira eletrônica e a proibição de ausentar-se de Manaus sem autorização da Justiça.
Em relação aos denunciados Emicley Araújo Freitas Júnior, Claudiele Santos da Silva, Marlisson Vasconcelos Dantas e Bruno Roberto da Silva Lima, ex-namorado de Djidja, o juiz também autorizou a retirada da tornozeleira eletrônica. O grupo já respondia ao processo em liberdade.
Quem são os réus
Dos dez acusados, cinco respondem ao processo em liberdade e cinco estão presos (anteriormente, seis estavam presos e quatro soltos). Por ora, o Ministério Público só denunciou o grupo por tráfico de drogas.
Veja abaixo quem são os denunciados pelo MP e os crimes pelos quais devem responder:
- Cleusimar Cardoso Rodrigues (mãe de Djidja): denunciada por tráfico de drogas e associação para o tráfico – continua presa;
- Ademar Farias Cardoso Neto (irmão de Djidja): denunciado por tráfico de drogas e associação para o tráfico – continua preso;
- José Máximo Silva de Oliveira (dono de uma clínica veterinária que fornecia a cetamina): denunciado por tráfico de drogas e associação para o tráfico – continua preso;
- Sávio Soares Pereira (sócio de José Máximo na clínica veterinária): denunciado por tráfico de drogas e associação para o tráfico – continua preso;
- Hatus Moraes Silveira (coach que se passava por personal da família de Djidja): denunciado por tráfico de drogas e associação pra o tráfico – continua preso;
- Marlisson Vasconcelos Dantas (cabeleireiro em uma rede de salões de beleza da família de Djidja): denunciado por tráfico de drogas – solto;
- Claudiele Santos Silva (maquiadora em uma rede de salões de beleza da família de Djidja): denunciado por tráfico de drogas – solta;
- Verônica da Costa Seixas (gerente de uma rede de salões de beleza da família de Djidja): denunciado por tráfico de drogas – com tornozeleira eletrônica;
- Emicley Araújo Freitas (funcionário da clínica veterinária de José Máximo): denunciado por tráfico de drogas – solto
- Bruno Roberto da Silva Lima (ex-namorado de Djidja): também denunciado por tráfico de drogas – solto.
A denúncia
Na denúncia, o promotor de Justiça André Virgílio Betola Seffair disse que a mãe de Djidja, Cleusimar Cardoso, estava no núcleo central do esquema de tráfico de entorpecentes.
“A denunciada guardava em sua residência numerosas caixas de Cetamina, fazendo um verdadeiro estoque para ser distribuído entre seus familiares e colaboradores, bem como os frequentadores do salão de beleza”, explicou o promotor.
Ainda segundo o Ministério Público, o ex-namorado de Djidja Cardoso, Bruno Roberto da Silva, estimulava a mãe da ex-sinhazinha a prosseguir na busca de uma falsa elevação espiritual.
FONTE: Por G1 AM