A família de Djidja Cardoso, ex-sinhazinha do Boi Garantido achada morta em Manaus no fim de maio, planejava criar uma vila na Zona Norte da capital amazonense para ampliar o grupo religioso fundado por eles e fazer uso indiscriminado de cetamina. A informação foi divulgada pela Polícia Civil nesta quinta-feira (20), após a conclusão do inquérito policial sobre o caso.
O laudo da necropsia aponta que a morte de Djidja foi causada por “depressão dos centros cardiorrespiratórios centrais bulbares; congestão e edema cerebral de causa indeterminada”. A polícia investiga se o quadro foi causado por overdose de cetamina, anestésico de uso humano e veterinário que se tornou uma droga ilícita na década de 1980 e só pode ser vendida com receita.
Segundo o delegado Cícero Túlio, as investigações apontaram que a família de Djidja, que fundou a seita que incentivava o uso da droga, queria criar um espaço para que pessoas viciadas em cetamina pudessem utilizar livremente a substância.
“Eles almejavam a criação de uma comunidade, a partir da compra de um terreno na Região Norte aqui de Manaus, para criar uma espécie de vila onde as pessoas iriam ali residir naquele ambiente e fazer uso indiscriminado da cetamina, além de promover os cultos de forma criminosa”, explicou o delegado.
A mãe da ex-sinhazinha, Cleusimar Cardoso, e o irmão dela, Ademar Cardoso, foram indiciados por tortura com resultado de morte, tráfico de drogas e outros 12 crimes (veja mais abaixo). Outras nove pessoas envolvidas no caso também foram indiciadas pela polícia. Após isso, o Ministério Público deve denunciá-los à justiça.
Para o delegado, o grupo queria criar uma espécie de comunidade: “Seria [uma comunidade] para fins de fomentar as práticas da seita na utilização desse tipo de substância”, resumiu.
O grupo envolvia também o ex-namorado de Djidja, Bruno Rodrigues, Hatus Silveira, que se passava por personal dela, além de funcionários de uma rede de salões de beleza administrada pela família da ex-sinhazinha, e de funcionários de um petshop, suspeitos de facilitarem a aquisição da substância.
“Durante as investigações, foi possível identificar que Cleusimar Cardoso, Ademar Cardoso e Djidja Cardoso, com o auxílio do ex-namorado de Djidja, Bruno Rodrigues, e dos funcionários Claudiele Santos da Silva; Verônica da Costa Seixas; e Marlisson Vasconcelos Dantas, operavam o esquema criminoso, promovendo a realização de cultos religiosos com a utilização de entorpecentes”, disse.
Grupo também pretendia montar clínica veterinária
Segundo o delegado, o grupo criminoso também pretendia montar uma clínica veterinária para facilitar o acesso e a compra de medicamentos de uso controlado com apoio dos donos de clínicas veterinárias, Sávio Pereira, José Máximo de Oliveira e Roberleno Fernandes.
“A família também era auxiliada por Hatus Silveira, apontado como elo entre os autores e os fornecedores das substâncias, principalmente José Máximo, Sávio e Roberleno, administradores dos empreendimentos comerciais que forneciam os medicamentos”, relatou Cícero Túlio.
As investigações apontam que Djidja passou a ser vítima de tortura praticada por sua própria mãe, Cleusimar.
“Ainda entre os indiciados está o indivíduo identificado como Emicley, que teria auxiliado na dissimulação de provas durante as buscas realizadas em uma das clínicas veterinárias onde trabalhava, na primeira fase da Operação Mandrágora”, informou o titular do 1° DIP.
Polícia pede prisão preventiva de ex-namorado da sinhazinha
A polícia também disse que representou, nesta semana, pela conversão da prisão temporária em preventiva de Bruno Rodrigues, ex-namorado de Djidja, com base nas provas coletadas em seu aparelho celular que indicam a participação do indiciado também na gestão da seita criminosa.
“Bruno também integrava a seita religiosa, atuando como auxiliar durante as meditações. Foi por meio dele que a família conheceu Hatus, que serviu de ponte de ligação entre a família e um dos fornecedores, José Máximo. Hatus já utilizava substâncias usadas no ramo veterinário, facilitando a aquisição dos entorpecentes para que a família pudesse continuar com as atividades da seita”, comentou o delegado.
Os crimes atribuídos aos indiciados foram os seguintes:
- tráfico de drogas;
- associação para o tráfico;
- perigo para a vida ou saúde de outrem;
- falsificação, adulteração ou corrupção de produtos destinados a fins terapêuticos ou medicinais;
- aborto provocado sem consentimento da vítima;
- estupro de vulnerável;
- charlatanismo;
- curandeirismo;
- sequestro e cárcere privado;
- constrangimento ilegal;
- favorecimento pessoal;
- favorecimento real;
- exercício ilegal da medicina;
- e tortura com resultado morte.
Os presos
Além da mãe e irmão de Djidja, estão presos funcionários do salão de beleza da família, o ex-namorado da empresária, o coach e ex-personal trainer da família, além de dois funcionários de uma clínica veterinária suspeita de fornecer a cetamina para o grupo.
A Justiça do Amazonas concedeu prisão domiciliar à maquiadora Claudiele Santos da Silva, ao maquiador Marlisson Vasconcelos Dantas e a um dos funcionários da clínica veterinária apontada como fornecedora de cetamina para a família de Djidja.
Confira abaixo quem são as pessoas que foram presas até o momento:
- Ademar Farias Cardoso Neto, irmão de Djidja Cardoso.
- Cleusimar Cardoso Rodrigues, mãe de Djidja.
- Verônica da Costa Seixas, gerente do salão de beleza Belle Femme.
- Marlisson Vasconcelos Dantas, cabeleireiro do mesmo salão.
- Claudiele Santos da Silva, maquiadora do mesmo salão.
- Bruno Roberto, ex-namorado de Djidja.
- Hatus Silveira, se identificava como personal trainer de Djidja.
- Dois funcionários da clínica veterinária suspeita de fornecer cetamina para a família Cardoso.
- José Máximo de Oliveira, dono da clínica veterinária suspeita de fornecer cetamina para a família Cardoso.
FONTE: Por G1