A Polícia Federal encontrou mais de 70 garimpeiros vivendo em condições análogas à escravidão, em Maués, interior do Amazonas, nesta terça-feira (30). Eles trabalhavam em uma área que praticava o chamado “garimpo de poço” . Nesta reportagem, o g1 explica o que é esta prática de garimpo ilegal.
A operação da PF tenta desmontar o que chama de “um dos garimpos mais lucrativos de toda a América Latina”. Os trabalhos se concentram em uma região de terra pública da união, que não tinha autorização para exploração.
De acordo com as investigações, no local eram produzidos mais de 6 quilos de ouro por dia e o túnel usado para extração tinha cerca de 40 metros.
Ainda segundo a Polícia Federal, na área, os garimpeiros trabalhavam em um local subterrâneo na modalidade chamada de “garimpo de poço”.
Um relatório produzido pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) mostrou que Amazonas é o estado com maior área de terras públicas ‘sem destinação’ na Amazônia Legal. O que representa um estímulo para a continuidade de invasões de terra pública.
O ambientalista da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), prof. Erivaldo Cavalcanti, explicou ao g1 no que consiste essa prática. “Trata-se da extração de minérios de forma subterrânea, ou seja em túneis”, disse.
Na ação, a polícia identificou que os garimpeiros que ficavam nesses túneis trabalhavam sem qualquer equipamento de proteção individual.
O professor também explicou que em tese esse tipo de extração produz menos impacto ambiental, vez que não desmata, nem causa erosão, mas por usar mercúrio no processamento também é danoso ao meio ambiente.
Já o geógrafo e ambientalista da WCS Brasil, Carlos Durigan, destacou que o uso do mercúrio, metal altamente tóxico, gera alto risco de contaminação.
“A prática gera um alto potencial contaminante tanto para os garimpeiros, quanto para a biodiversidade e mesmo às pessoas que vivem próximas às áreas onde as atividades ilegais ocorrem”, ressaltou.
O especialista pontuou ainda que há, pelo menos, outros três métodos identificados para extração ilegal de ouro na Amazônia.
- Aluvião: que é feito com uso de maquinário para retirada de solo e sedimentos de margens de rios;
- Dragagem: com uso de dragas e equipamentos que sugam sedimentos dos leitos de rios;
- Poço: também com a retirada de solo em áreas com veios do metal identificado e este de escavação de poços ou minas artesanais.
Trabalho análogo à escravidão
Na operação, chamada de “Mineração Obscura”, foi identificado que esses garimpeiros trabalhavam em condição análoga à escravidão. O material cita casos de servidão por dívida, “evidenciando a exploração desumana dos trabalhadores”.
No local, a PF apreendeu um caderno com anotações sobre supostas compras, ou dívidas, feitas pelos trabalhadores.
A lista inclui cigarros, itens de higiene pessoal, caixas de bombom e até material de saúde básica, como curativos e soro fisiológico. A página tem data do último dia 18.
Até a manhã desta quarta-feira (30), os nomes dos responsáveis pelo garimpo ilegal não foram divulgados, mas segundo a PF, eles seguem sob investigação.
Além disso, todos os 70 trabalhadores já foram resgatados do local. A Polícia Federal informou que está trabalhando para descobrir de que maneira eles foram cooptados. Os garimpeiros resgatados serão levados para os estados onde moram, no Pará e no Maranhão.
Operação
A ação reúne equipes da Polícia Federal, do ICMBio, do Ministério do Trabalho e Emprego e do Ministério Público do Trabalho.
A operação começou na última sexta (26) e deve seguir até a próxima sexta (3), quando a PF deve divulgar novo balanço.
FONTE: Por G1 AM