A Polícia Federal encontrou um mercadinho com cartaz de venda de carnes, gasolina e até whisky na Terra Indígena Yanomami, nessa quarta-feira (17), após o início de novas operações no território. A estrutura, localizada próxima ao rio Couto Magalhães, foi destruída pelos agentes.
A ação ocorre num momento em que a emergência sanitária declarada pelo governo federal na região está prestes a completar um ano (leia mais ao final da reportagem).
Nos cartazes do mercado havia o anúncio de itens como diesel, gasolina, óleo lubrificante, cigarro farinha e cerveja, além de peixe, carne e frango. Nem todos os materiais foram encontrados no local, mas os agentes localizaram centenas de latas de cerveja em um área de mata próxima ao ponto de comércio (veja abaixo).
A estrutura dos garimpos ilegais dentro da floresta pode ser, muitas vezes, comparada a uma minicidade na floresta. Operações da Polícia Federal já encontraram prostíbulos, boates, festa de carnaval, bingos, serviço de Wi-fi, restaurantes e até um consultório odontológico em plena selva.
Ao longo da operação nessa quarta (17), a PF apreendeu armas, radiocomunicadores, munição e coletes à prova de bala, e destruiu um acampamento de garimpeiros ilegais que voltaram para o território indígena. A PF não divulgou se houve prisões.
De acordo com a PF, os agentes estão atrás de garimpeiros que permanecem na área mesmo depois das operações de 2023 ou que voltaram à maior terra indígena do país neste período. O garimpo ilegal é uma das causas da crise de saúde na Terra Yanomami.
Esta operação é a primeira desde que o governo federal anunciou, no último dia 10, “ações permanentes” na Terra Yanomami. A ministra dos povos indígenas, Sônia Guajajara, informou que serão tomadas medidas para acompanhar a execução de ações e políticas públicas no território.
O presidente Lula (PT) chegou a fazer uma reunião com ministros no Palácio do Planalto na semana passada para avaliar as ações tomadas e definir novas medidas para os Yanomami. Ele disse que a situação dos indígenas é tratada como “questão de Estado”.
Ficou determinado que a presença das Forças Armadas e da Polícia Federal será permanente na região. A Casa Civil anunciou ainda investimentos de R$ 1,2 bilhão para “ações estruturantes” em 2024.
Um ano de emergência na Terra Yanomami
Em janeiro de 2023, o governo Lula, recém-empossado, expôs a situação no território, decretou emergência de saúde pública e deflagrou uma série de operações para garantir assistência aos indígenas e conter o garimpo ilegal.
Na avaliação do Ministério Público Federal e de lideranças indígenas, a União conseguiu dar uma resposta de emergência, mas não avançou o suficiente, e o cenário devastador segue o mesmo um ano depois. Ainda há fome, malária, centenas de mortes e devastação com o garimpo.
Segundo o governo, em 2023 foi criado um centro de operações de emergências em saúde pública na região. Foram realizados mais 13 mil atendimentos de saúde e enviados 4,3 milhões de unidades de medicamentos e insumos.
O território é alvo há décadas do garimpo ilegal, mas a invasão se intensificou nos últimos anos. A atividade impacta diretamente o modo de vida dos povos originários. A invasão destrói o meio ambiente, causa violência, conflitos armados e poluição dos rios devido ao uso do mercúrio.
FONTE: Por G1