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Sem ar-condicionado nas Olimpíadas de Paris, Brasil vai pagar do próprio bolso

Comitê Organizador não fornecerá refrigeração por razões ambientais; COB gastará R$ 270 mil em instalação

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Onda de calor em Paris preocupa o COB para as Olimpíadas Sarah Meyssonnier/Reuters

As ondas de calor do verão europeu em 2023 já deram o tom: a temperatura vai ser alta durante as Olimpíadas de Paris, que serão realizadas entre julho e agosto de 2024. Mas o Comitê Organizador do evento não vai oferecer ar-condicionado nos quartos da Vila Olímpica.

A decisão, em prol da sustentabilidade, criou uma polêmica. Depois de baterem o pé, delegações de diferentes países conseguiram o direito de instalar aparelhos nos dormitórios, desde que paguem do próprio bolso.

Em entrevista à CNN, Joyce Ardies, gerente de Jogos e Operações Internacionais do Comitê Olímpico do Brasil (COB), afirma que a entidade decidiu providenciar os aparelhos para a delegação brasileira.

“Desde quando recebemos a notícia, os comitês olímpicos nacionais mostraram uma preocupação muito grande porque estamos falando de atletas olímpicos de alto rendimento. E não ter a temperatura ideal para o descanso afeta diretamente a performance”, diz.

Depois de uma série de reuniões com as delegações, Paris permitiu a instalação de módulos temporários, que custam 300 euros a unidade (cerca de R$ 1.600). A equipe brasileira deve ocupar 180 quartos, e o custo total deve ser de cerca de R$ 270 mil.

“O COB entendeu que é um investimento que precisará ser feito, não tem como pensar duas vezes”, opina Ardies.

Estados Unidos, Holanda, Inglaterra e Canadá estão entre as delegações que também farão a compra e instalação dos aparelhos, segundo a gerente do COB.

“Normalmente, esse serviço é provido pelo Comitê Organizador. Em Tóquio foi assim, em Londres, mas o ponto principal em Paris é que eles realmente tinham uma ambição de conseguir fazer prédios para atender às mudanças climáticas”, afirma a dirigente do COB.

As Olimpíadas do ano que vem serão realizadas entre 26 de julho e 11 de agosto, período propenso a ondas de calor. A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, que é conhecida pela bandeira ambientalista, disse que não há como recuar da decisão sobre o ar-condicionado.

“Tenho muito respeito pelo conforto dos atletas, mas penso muito mais na sobrevivência da humanidade”, disse Hidalgo em entrevista à emissora France Info, no início do ano.

Organizadores apostam em geotermia, mas delegações estão pessimistas

A Vila dos Atletas em Paris-2024 estará localizada na divisa entre três cidades da região metropolitana de Paris: Saint-Denis, Saint-Ouen e L’Île-Saint-Denis. O complexo foi concebido como um distrito ecológico, que em 2025 será transformado em habitações, escritórios e lojas.

Apesar de os alojamentos ficarem em outras cidades, Anne Hidalgo, prefeita da capital francesa, preside a empresa responsável pelas obras olímpicas, a Solideo, e influenciou as decisões também sobre o alojamento.

O complexo dos atletas foi projetado respeitando questões bioclimáticas, segundo a Solideo. Para reduzir a temperatura, a arquitetura foi baseada no conceito de geotermia.

Os prédios são construídos em blocos, separados, para permitir a circulação de correntes de vento. E o novo bairro será ligado à rede de refrigeração urbana, sistema que bombeia água do Sena para tubulações subterrâneas e já é responsável por resfriar mais de 700 locais da cidade, como o Museu do Louvre, o Grand Palais e a Assembleia Nacional.

A empresa garante que o sistema permite reduzir a temperatura dos quartos em 6°C com relação ao ambiente exterior. De acordo com essa estimativa, os organizadores de Paris-2024 afirmam que os quartos terão temperaturas entre 23°C e 26°C — o que pressupõe uma expectativa de que o clima ficará entre 30°C e 33°C do lado de fora.

No ano passado, porém, Paris registrou 13 dias acima dos 35°C entre julho e agosto, com picos acima dos 40°C, o que deixaria a temperatura nos quartos em aproximadamente 34°C. Por essa razão, as delegações estão pessimistas sobre a funcionalidade do sistema.

“Se diminuir até 4°C ou 5°C em um calor de 35°C — o que tem acontecido na França —, não é suficiente. Para um atleta descansar, 30°C não é a temperatura ideal”, diz Joyce Ardies.

Após conversar com especialistas em performance, a gerente do COB afirma que o ideal para os atletas seria uma temperatura entre 22°C e 23°C.

“Não temos certeza de que a tecnologia apresentada vai funcionar, e criou-se uma dúvida em relação à temperatura que pode ser alcançada com a geotermia. Paris-2024 está confiante, mas ao mesmo tempo nós não podemos arriscar.”

Anéis olímpicos diante da Torre Eiffel, em Paris. REUTERS/Benoit Tessier/Reuters/File Photo

Em entrevista à agência Associated Press, Eliud Kipchoge, bicampeão olímpico e recordista mundial da maratona, endossou o plano de sustentabilidade de Paris. O queniano é um dos maiores defensores da justiça ambiental no esporte e tem feito alertas sobre as alterações climáticas.

Sustentabilidade

“É uma boa ideia, porque todos precisamos de reduzir o nosso carbono”, disse à AP.

Questionada sobre a visão do atleta, Joyce Ardies diz que é possível ser sustentável de outras formas e acrescenta que o COB criou um departamento voltado para isso.

“Tem toda a operação de uniformes, descarte de caixas de papelão e em vez de garrafa de plástico, vamos fornecer garrafas térmicas […] Mas na parte do ar-condicionado e do ambiente do quarto, do descanso, entendemos que é algo que não podemos nos comprometer”, afirma a gerente do COB.

FONTE: Por CNN

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