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Bruno e Dom: um ano após mortes, entidade denuncia ‘ações paliativas’ no Vale do Javari e cobra proteção

Indigenista brasileiro e jornalista britânico foram mortos no dia 5 de junho de 2022, durante uma expedição no Vale do Javari, segunda maior terra indígena do país, localizada no Amazonas.

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Bruno e Dom foram assassinados no Vale do Javari. — Foto: Reuters/Ueslei Marcelino

Os assassinatos do indigenista brasileiro Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips completam um ano nesta segunda-feira (5). Os dois foram mortos durante uma expedição no Vale do Javari, segunda maior terra indígena do país, localizada no interior do Amazonas.

Um ano após crime, a principal entidade que representa indígenas da região – a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) – denuncia que as medidas de segurança adotadas pelo governo federal têm sido paliativas e insuficientes para acabar com a criminalidade e insegurança na região.

Neste domingo (4), o advogado Eliésio Marubo e a Univaja publicaram um vídeo em que o procurador jurídico da entidade relembra as ações realizadas após os assassinatos.

O advogado afirmou que, depois das mortes, a Univaja estabeleceu contato com autoridades nacionais e de outros países. Mas, de acordo com ele, em um ano, nada avançou.

“Infelizmente, nós não tivemos muitas respostas das autoridades. Participamos incansavelmente da construção de uma pauta com o novo governo. Infelizmente, nós não tivemos a resposta que nós gostaríamos de ter”, se referindo à proteção do estado brasileiro à região.

Segundo o procurador jurídico, os moradores da região ainda sofrem com os mesmos problemas que resultaram nos assassinatos do indigenista e do jornalista. “O Vale do Javari continua a mercê do crime organizado”, enfatizou. “A situação continua assim como estava no momento da morte de Dom e Bruno. As pessoas continuam sendo ameaçadas”, completou.

‘Ações paliativas’

Ao avaliar os 100 primeiros dias do governo Lula, Eliésio Marubo afirmou que houve “apenas algumas atividades e ações paliativas”.

Em entrevista ao Estúdio i, da GloboNews, na sexta-feira (2), o presidente da Univaja, Beto Marubo, já havia criticado a atuação das autoridades. Segundo ele, depois dos assassinatos, houve uma expectativa de que o Estado brasileiro se fizesse presente na área e desse uma resposta contundente. No entanto, as medidas adotadas não foram suficientes.

“A maior parte das ações que foram executadas no Javari foram ações paliativas que, na prática, não vão resolver a questão do Vale do Javari: o enfrentamento da criminalidade, das quadrilhas organizadas, da pesca e caça ilegais” , afirmou.

Eliésio Marubo afirmou que os indígenas continuam na tentativa de dialogar com as autoridades brasileiras e internacionais. “No sentido de construir uma nova ponte ou reconstruir a ponte de garantia dos direitos fundamentais das pessoas que vivem no Vale do Javari. Essa gente precisa de proteção. Essa precisa de políticas públicas eficazes que possam, de fato, minimizar todos os impactos que o crime organizado produziu na nossa região”, finalizou.

Imagem mostra Bruno em jornada ao Vale do Javari — Foto: Reprodução/Globoplay
Imagem mostra Bruno em jornada ao Vale do Javari — Foto: Reprodução/Globoplay

As falas dos líderes indígenas são reflexo da rotina na região. Em abril deste ano, o g1 apurou novas ameaças feitas a uma liderança do povo Kanamari. Na ocasião, homens armados com fuzis invadiram uma aldeia da etnia e ameaçaram o cacique. Segundo lideranças, a briga começou após a Polícia Federal apreender madeiras extraídas ilegalmente do território indígena. Um boletim de ocorrência foi feito sobre o caso.

Em novembro do ano passado, os Kanamari já haviam denunciado que pescadores ilegais que atuam no Vale do Javari ameaçaram exterminar lideranças indígenas da região. Na época, um pescador chegou a apontar uma arma para o peito de uma indígena e disse que “as mortes no Vale do Javari não iam acabar até que as principais lideranças do local sejam assassinadas”. Os homens disseram ainda que a mulher estava na lista dos alvos dos criminosos.

“Vou tirar a máscara para você ver meu rosto e te avisar que por conta de atitudes assim que Bruno e Dom foram mortos pela nossa equipe e você será a próxima. Só não te matarei agora porque estamos na presença de muitas crianças”, disse um dos pescadores à mulher, segundo os indígenas.

Bruno e Dom em fotos exclusivas — Foto: Reprodução/Globoplay
Bruno e Dom em fotos exclusivas — Foto: Reprodução/Globoplay

Em fevereiro, a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e representantes dos Ministérios da Justiça e dos Direitos Humanos visitaram a terra indígena. O objetivo da visita foi fortalecer a atuação das forças de segurança para garantir a proteção dos direitos indígenas, socioambientais e também de servidores que atuam na fiscalização do território.

Na última semana, a ministra mandou criar um grupo de trabalho de proteção territorial e de segurança da Terra Indígena. A iniciativa tenta encontrar uma solução para a falta de segurança e aumento da criminalidade na região, mas ocorre após quase um ano das mortes de Bruno e Dom.

Julgamento
Audiência do caso Bruno e Dom. — Foto: Rôney Elias/Rede Amazônica
Audiência do caso Bruno e Dom. — Foto: Rôney Elias/Rede Amazônica

Um ano após a morte dos dois, nenhum réu foi condenado pelos crimes. As primeiras audiências da ação penal estavam marcadas para ocorrer nos dias 23, 24 e 25 de janeiro, mas não aconteceram por problemas técnicos, conforme a Justiça Federal no Amazonas. As sessões, realizadas apenas em março, ficaram marcadas pela demora e instabilidades na internet, o que prolongou ainda mais a finalização do processo.

Os réus Amarildo da Costa de Oliveira, Oseney da Costa de Oliveira e Jefferson da Silva Lima, que estão detidos em presídios federais, chegaram a ser interrogados em maio, e na ocasião a justiça já havia dado um prazo para que tanto o Ministério Público Federal quanto a defesa dos réus apresentassem alegações finais. No entanto, os advogados conseguiram anular os interrogatórios.

Amarildo da Costa de Oliveira, Jefferson da Silva Lima e Oseney da Costa de Oliveira — Foto: Rede Amazônica
Amarildo da Costa de Oliveira, Jefferson da Silva Lima e Oseney da Costa de Oliveira — Foto: Rede Amazônica

Isso porque, segundo os advogados, a defesa pediu que a Justiça Federal ouvisse mais testemunhas de defesa, o que foi negado pelo juiz Fabiano Verli, que conduzia o processo.

Com a negativa por parte do magistrado, os defensores conseguiram no Tribunal Regional da 1ª Região (TRF-1) o direito de ouvir as testemunhas indeferidas. Somente após isso acontecer é que os três réus voltarão a ser interrogados.

À Rede Amazônica, a Justiça Federal informou que a defesa já apresentou os endereços atualizados das testemunhas que serão ouvidas, e que após o ato, definirá a data de interrogatório de Amarildo, Jefferson e Oseney.

FONTE; Por G1 AM

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