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Nova moda da selfie 0.5 busca desconstruir imagem de perfeição, dizem especialistas

Foto que registra um momento de forma distorcida também surgiu após as pessoas vivenciarem a possibilidade da própria morte durante a pandemia

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Modelo Mia Regan é uma das celebridades mais conhecidas por tirar fotos dessa forma e publicar no Instagram Reprodução/Instagram/@mimimoocher

As mídias sociais foram invadidas por um novo modo de captar imagens: as selfies 0.5, fotos em que o usuário utiliza a câmera frontal para registar um momento de forma distorcida, ou melhor, sem os efeitos mais conhecidos como Big Mood ou Hair Style, entre tantos outros.

Essa novidade se deu pela procura das pessoas em desconstruir a imagem da perfeição e pela vivência de morte coletiva que tiveram com a pandemia, afirmaram especialistas entrevistados pela CNN.

Com a pandemia e a obrigação do isolamento social, começamos a usar mais as plataformas digitais, como o teams ou as ligações do WhatsApp, para estarmos mais próximos uns das outros e agilizar processos de trabalho.

O crescimento no uso do Google Meet, por exemplo, ultrapassou 60% o número de usuários por dia, nas primeiras semanas após o primeiro caso de coronavírus no Brasil. Enquanto o Skype registrou um aumento de 70% entre os cadastrados no primeiro mês da pandemia.

E não deu outra: as pessoas começaram mais tempo contemplando a própria imagem. E, “quando a gente está se olhando demais para a selfie, a nossa autopercepção muda”, afirma Daniela Arrais, jornalista e fundadora da Contente, uma plataforma focada no bem-estar digital, que acumula 330 mil seguidores no Instagram.

O contato com a morte, porém, também humanizou as pessoas.

Clotilde Perez, professora de semiótica da Universidade de São Paulo (USP), destaca que a população começou a ter uma maior consciência e abertura para a “imperfeição humana”. “Gisele Bündchen faz sentido, mas uma outra pessoa também faz”, diz ela.

E a “selfie 0.5 vem na mesma pegada da moda rasgada”, continua. Ela cita o caso do tênis da Balenciaga, todo destruído, que causou alvoroço assim que foi lançado neste ano. “Estamos assumindo que a imperfeição faz sentido”.

Tênis da Balenciaga rasgado é vendido por R$ 9 mil / Courtesy of Balenciaga

Diogo Cortiz, coordenador do mestrado e doutorado em tecnologias da inteligência e design digital da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), declara também que esse modo de tirar foto frontal visa dar novos significados ao conceito de perfeição.

“Se a gente comparar, os vídeos no YouTube eram sempre bem produzidos; agora, no TikTok, há um maior improviso… É uma nova linguagem da internet”.

Quando perguntando sobre quanto tempo esse modo de tirar fotos ainda durará, o professor diz que pode ser apenas a moda do momento, mas que “está associada a uma experimentação, a formas de expressão e desconstrução daquilo que era uma busca pelo ideal”.

Essa possibilidade de imagem surgiu no iPhone 11, da Apple, e no Galaxy S10, da Samsung. Ambos modelos lançados em meados de 2019.

Vale destacar que a palavra “selfie”, em si, foi um dos grandes acontecimentos nesta década. Em 2013, o dicionário Oxford definiu o termo como sendo a palavra do ano e a selfie do Oscar, feita pela apresentadora Ellen DeGeneres, é uma das fotos mais retuitadas da história do Twitter – e vale mais de US$ 1 bilhão.

Famosa selfie do Oscar de Ellen Degeneres foi a mais compartilhada da história / Reprodução

Diversos efeitos surgiram para que as imperfeições faciais sumissem das fotos, buscando por simetria e uniformidade. Tanto que vários artistas e celebridades ficaram conhecidos por realizar plásticas tentando sair da sua imagem real e chegar a algo idealizado.

Isso tomou dimensões maiores quando foram lançados os primeiros aparelhos celulares com tecnologias mais avançadas, fazendo com que rugas, marcas de expressões e manchas ficassem mais aparentes, disse a professora da USP, Clotilde Perez.

“A selfie permite o usuário a se olhar, se contemplar, e avaliar em cada detalhe. O que acaba disparando comportamentos que buscam a perfeição.”

Situação que ficou conhecida como “Dismorfia do Snapchat”, em que pessoas usam de forma exagerada filtros que prometem efeitos de perfeição, como afinar o nariz ou engrossar os lábios. Por conta disso, o aumento por procedimentos estéticos também aumentou.

Um desses efeitos de sucesso no Instagram é o “Natural Kardashian”, em que o usuário fica com a face parecido com a estrela de reality show Kim Kardashian.

Daniela, fundadora da Contente, diz que “nessa constante olhada para o espelho, as paranoias podem aumentar por conta da busca pela perfeição, que pode gerar casos nocivos”. “Essa procura só prejudica as pessoas”, diz.

No site “Dicio, Dicionário Online de Português”, a palavra perfeição significa: “Sem defeitos, falhas; o mais elevado grau de exatidão”. E dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica mostram que mais de 1,5 milhão procedimentos estéticos são feitos no Brasil todos os anos.

FONTE: Por CNNM, com informações da Agência Brasil

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