Quase 30 pessoas deverão ser ouvidas em dois dias de sessão. Menino de 4 anos foi morto após tortura do padrasto, segundo MP; mãe também responde por homicídio, tortura e coação de testemunha.
Réus pela morte do menino Henry Borel, Jairo Souza dos Santos Júnior, o Dr. Jairinho, e Monique Medeiros se reencontraram pela primeira vez desde que foram presos. O ex-vereador e padrasto do garoto e a mãe da criança compareceram nesta terça-feira (14) à segunda audiência de instrução e julgamento do caso, marcada pela 2ª Vara Criminal da Capital.
O menino de 4 anos morreu no dia 8 de março e, de acordo com a denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), foi vítima de torturas realizadas por Dr. Jairinho. Monique também responde por homicídio triplamente qualificado, tortura e coação de testemunhas.
Jairinho e Monique ficaram sentados em fileiras diferentes no banco dos réus. O ex-vereador chegou primeiro. A ex, quando entrou no auditório, nem sequer olhou na direção de Jairinho e permanecia sem falar com ele.
Essa fase do Tribunal do Júri, presidido pela juíza Elizabeth Machado Louro, começou no dia 6 de outubro, com o depoimento de dez testemunhas de acusação, em mais de 14 horas de oitivas. Na ocasião, o ex-vereador participou apenas por videoconferência, do Complexo de Gericinó.
Na etapa desta semana, seriam pelo menos dois dias de sessão para ouvir, ao todo, 28 pessoas.
Cabeleireira viu Henry mancar
A primeira a ser ouvida nesta terça foi Tereza Cristina dos Santos, cabeleireira que atendeu Monique em fevereiro e presenciou uma chamada de vídeo com Henry.
“Ela [a babá Tayná] estava mostrando que a criança estava meio mancando, que tinha machucado o joelho”, disse Tereza. A cabeleireira disse ainda que ouviu Henry perguntar na chamada: “Mamãe, eu te atrapalho?”
Colega confrontado por votação
Thiago K. Ribeiro abriu a fase de depoimentos pedidos pela defesa de Jairinho. Thiago, que foi colega de Jairinho na Câmara de Vereadores, disse que ficou “assustado” com a notícia de que o amigo foi indiciado pela morte de Henry.
“Até hoje não consigo entender o que aconteceu, não condiz com a figura que conhecemos nos últimos nove anos”, disse.
“Tinha mania de brincar com as crianças, levantar as crianças. Ele é uma pessoa muito carinhosa”, declarou.
O promotor Fábio Vieira dos Santos o questionou sobre a votação, quase por unanimidade, da cassação de Jairinho. Foram 50 votos pela perda do mandato e uma abstenção.
“Esse é um caso que estava na televisão 24 horas por dia, 7 dias na semana. O político pensa no impacto de um caso desses no mandato dele”, disse.
Tia de Jairinho: ‘Foi um acidente’
Herondina de Lourdes Fernandes, tia de Jairinho, é a dona da casa onde o ex-vereador e Monique estavam quando foram presos. “Eu tenho certeza absoluta que ele não fez isso”, disse.
A tia afirmou ainda que Jairinho disse que a morte do enteado “foi um acidente”.
Roteiro previsto da sessão
- Terça: duas testemunhas de acusação (uma faltou) e 11 de defesa arroladas por Jairinho;
- Quarta: 15 testemunhas de defesa convocadas por Monique.
- Ainda não há data marcada para a decisão do júri.
Acusação
Em outubro, duas testemunhas faltaram. O promotor de justiça Fábio Vieira dos Santos insistiu em suas oitivas, assim como as defesas de Jairinho e Monique. São elas:
- Tereza Cristina dos Santos, cabeleireira que viu ligação entre Monique e Henry em um salão
- Leila Rosângela de Souza Mattos, empregada de Jairinho e Monique.
Leila Rosângela mais uma vez faltou à convocação.
Defesa
Após esses depoimentos, as testemunhas de defesa convocadas pelas defesas de Jairinho e Monique Medeiros começaram a ser ouvidas. Como são muitos depoimentos, a audiência continua na quarta-feira (15).
A defesa de Jairinho, exercida pelo advogado Braz Sant’Anna, convocou:
- Thiago Kwiatkowski Ribeiro – foi vereador na Câmara do Rio ao lado de Jairinho e atualmente é conselheiro do Tribunal de Contas do Município;
- Herondina de Lourdes Fernandes – Tia de Jairinho;
- Coronel Jairo, pai de Jairinho e deputado estadual;
- Luiz Fernando Abidu – filho mais velho de Jairinho;
- Cristiane Isidoro – ex-assessora de Jairinho;
- Muriel de Albuquerque Nóbrega – Ex-companheira de Jairinho;
- Fernanda Abidu Figueiredo – Ex-companheira de Jairinho e mãe de Luiz Fernando;
- Rogério Baroni – Motorista da família;
- João Guilherme Câmara Santos – Ex-assistente de Jairinho;
- Ricardo Garcia de Góes – Médico legista;
- Sami Jundi – Médico especialista em medicina legal e perícia médica;
- Sigmar Rodrigues de Almeida – Policial civil.
Além dessas, algumas testemunhas em comum com a acusação já foram ouvidas no dia 6 de outubro.
O Tribunal de Justiça do Rio convocou para o dia 15 de dezembro as seguintes testemunhas de defesa para Monique Medeiros, de acordo com a orientação dos advogados dela, Thiago Minagé e Hugo Novais:
- Glauciene Ribeiro Dantas – Babá de Henry Borel dos 2 aos 4 anos de idade;
- Reinaldo César Pereira Schelb – Capitão da PM;
- Renata Alves Medeiros de Souza Fernandes – Prima de Monique e pediatra do Henry;
- Julieta Fernandes da Costa e Silva – Tia paterna de Monique Medeiros;
- Natasha de Oliveira Machado – ex-namorada de Jairinho;
- Adriano França – Delegado da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima;
- Antenor Lopes – Diretor do Departamento Geral de Polícia da Capital;
- Elisa Walleska Kruger – Psicóloga;
- Lorenzo Parodi – Perito contratado pela defesa de Monique para analisar documentos e provas;
- Jairo Souza Santos – Coronel Jairo, pai de Jairinho;
- Rafaela Pimentel Amaral – Melhor amiga de Monique;
- Bruno Bass – Cabeleireiro de Monique;
- Rosangela Medeiros – Mãe de Monique;
- Bryan Medeiros da Costa e Silva – Irmão de Monique;
- Ana Paula Medeiros Pacheco – Prima de Monique por parte de mãe.
Além dessas, outras testemunhas que também serviriam à defesa de Monique já foram ouvidas no dia 6 de outubro.
Audiência de Instrução e Julgamento
É uma audiência em que são produzidos elementos probatórios de que houve um crime que deve ir a julgamento. A sessão conta com a presença das partes, seus advogados, testemunhas e possíveis peritos que farão o convencimento ou não do julgador.
Dependendo do que está sendo analisado, pode ser oferecida uma tentativa de conciliação entre as partes.
O caso
Monique e Jairinho estão presos desde 8 de abril deste ano acusados pela morte do menino Henry Borel. De acordo com as investigações, a criança morreu por conta de agressões do padrasto e pela omissão da mãe. Um laudo aponta 23 lesões por ‘ação violenta’ no dia da morte do menino.
O ex-vereador teve um pedido de habeas corpus negado pelos desembargadores da 7ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio. Já a professora entrou com um pedido de relaxamento de prisão no Supremo Tribunal Federal.
Jairinho foi denunciado por:
- homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, tortura e impossibilidade de defesa da vítima), com aumento de pena por se tratar de menor de 14 anos;
- tortura;
- coação de testemunha.
Monique Medeiros foi denunciada por:
- homicídio triplamente qualificado na forma omissiva imprópria, com aumento de pena por se tratar de menor de 14 anos;
- tortura omissiva;
- falsidade ideológica;
- coação de testemunha.
FOTO: Por G1