A proposta de construção de casas sobre balsas para substituir palafitas que enfeiam a orla de Manaus é uma das piores soluções para um problema que já deveria ter sido resolvido há anos.
As moradias inapropriadas sobre o Rio Negro ou à margem dele, em Manaus, surgiram com a construção da cidade, e sempre foi negligenciado pelo poder público. São famílias com dificuldades financeiras que se instalaram no local pela proximidade com os locais onde costumam trabalhar para o sustento próprio.
Manaus, que sempre teve o rio como uma das principais portas de entrada (a principal antes da criação dos aeroportos) já teve uma cidade flutuante, que foi destruída como forma de minimizar os problemas que essas moradias representavam: poluição ambiental e visual, insalubridade, violência, disseminação de doenças entre outras tantas.
Um dos principais problemas de se reconstruir as moradias flutuantes é a relação que a população do Amazonas, de modo geral, tem com o rio. Apesar da proposta prever a construção de galerias para receber o esgoto das casas, isso não evitaria o descarte de lixo no rio. Atualmente, a Prefeitura de Manaus retira quase mil toneladas de lixo por mês da orla do Rio Negro e dos igarapés que desaguam nele.
A retirada de palafitas da orla é uma necessidade, mas empurrar o problema para as águas é um erro que não pode ser cometido.
O autor da proposta argumenta que as moradias flutuantes seria uma forma de manter as pessoas nos locais onde elas mantêm uma relação cultural. No entanto, essa não é a única saída para solucionar o problema que gerou a proposta.
Manaus há muito tempo tem áreas degradas na região que margeia o Centro Histórico, onde caberia, por exemplo, a desapropriação de imóveis abandonados para a construção de moradias verticais para pessoas de baixa renda. Ou aproveitar os prédios abandonados que atualmente servem como sub-moradias sem condições adequadas, tanto estruturais (risco real de desabamento por falta de manutenção adequada) quanto sanitárias.
Essa solução, inclusive, poderia ajudar o comércio da região, que sofre com a fuga de clientes desde que os bairros começaram a fortalecer seus centros comerciais e os shoppings centers caíram no gosto da classe média.
Um projeto de reurbanização do Centro e dos bairros próximos seria uma solução muito mais eficiente para a retirada das palafitas da orla. Aliás, não deveriam ser retiradas apenas as palafitas, mas todas as empresas que enfeiam a cidade à margem do Rio Negro.
A orla de Manaus deveria também ser incluída no projeto de reurbanização para que fosse transformada em ponto turístico para o deleite tanto dos manauaras quanto dos visitantes da capital do Amazonas.
FONTE: Por AMAZONAS ATUAL