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O hotel de selva Cristalino Lodge, no sul da Amazônia

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Daniela Filomeno desvenda os mistérios do sul da Amazônia no programa CNN Viagem&Gastronomia (Foto: acervo pessoal)

Quase na divisa com o Pará, no norte do estado de Mato Grosso, uma Amazônia pouco conhecida abriga o Cristalino Lodge, um hotel de selva que mexe com os sentidos sensoriais e com nossa conscientização ambiental: o que podemos fazer por nossa floresta?

No quarto episódio do programa CNN Viagem&Gastronomia* – ao ar sábado (29), às 21h – Daniela Filomeno parte para mais uma ecoaventura, dessa vez no sul da Amazônia, no hotel de selva Cristalino Lodge. Localizado no meio de uma reserva particular com mais de 11 mil hectares, o hotel oferece experiências únicas ao ar livre, como observação das quase 600 espécies de aves, caminhadas, canoagem, passeios de barco e uma verdadeira imersão na Amazônia.

Daniela Filomeno pratica canoagem no Rio Cristalino (Foto: CNN Viagem&Gastronomia)

Praticar turismo na maior floresta tropical do mundo não se resume somente ao Amazonas (o estado é apenas a porta de entrada principal). Afinal, seu território legal faz fronteira com nove estados. Já o bioma que leva o mesmo nome e ocupa 49% de nosso território pode ser visitado a partir de vários lugares: um deles, muito especial, fica no sul da Amazônia. A Reserva do Cristalino é uma extensão de preservação ambiental privada com mais de 11 mil hectares – uma área seis vezes maior do que a do arquipélago de Fernando de Noronha.

É lá que fica o Cristalino Lodge, um hotel de selva sustentável e totalmente integrado à mata, um refúgio dentro da imensidão que é a floresta amazônica. E aos pés do Rio Cristalino. Próximo à cidade de Alta Floresta, o Cristalino Lodge tem 18 acomodações que oferecem uma vivência real do que é estar na natureza. Acordar em um bangalô com telas em vez de algumas paredes, na oscilação da temperatura e dos sons da floresta, é uma experiência possível em poucos lugares. Ainda mais cercado de mata primária (que desde “sempre” esteve aqui), dentro de uma reserva privada, com o horizonte verde a perder de vista.

Essa região, chamada sul da Amazônia, tem uma diversidade não vista nas demais áreas amazônicas. Devido à proximidade com o Pantanal e o cerrado, ela recebe migração de animais e tem uma variedade oriunda não somente da floresta: concentra um terço das espécies de todas as aves do Brasil, com mais de 600 diferentes tipos. E pesquisadores sempre acham uma nova espécie no local.

A reserva do Cristalino é um dos mais ricos lugares para observação de aves (Foto: Jorge Lopes)

Dois mirantes servem de observatório de aves e macacos que vivem na copa das árvores. As torres de aço de 50 metros são alcançadas por trilhas no meio da floresta, sendo uma construída em parceria com a universidade americana de Stanford. É de lá que é possível ver, no amanhecer, o fenômeno dos rios voadores.

Daniela Filomeno no observatório de aves (Foto: CNN Viagem&Gastronomia)

Aliás, para quem ama trilhas, são 30 quilômetros de diferentes caminhos com muita observação de animais e aves. Contemplar os reflexos espelhados das árvores no rio em um passeio de barco ou por canoagem, além de tomar banhos de rio, faz parte da rotina de estar hospedado no Cristalino Lodge. Um delicioso deque flutuante dá as boas-vindas e também é um convite para uma happy hour em torno da fogueira, ao entardecer.

História

Desde 1990, a Fundação Cristalino contribui com o lodge no desenvolvimento de programas de conservação, educação e pesquisa em prol da biodiversidade. Iniciou um acampamento de selva (em que se dormia em redes), em 1992, para aplicar os princípios do ecoturismo na floresta. Devido à limitação da malha aérea, o local era frequentado majoritariamente por estrangeiros. Com o passar dos anos, começou a receber muitos pesquisadores e observadores de aves, fauna e flora – a fundação ainda mantém essas atividades, acolhendo profissionais de todo o mundo. Há 20 anos virou um hotel, que hospeda também pessoas interessadas em um turismo sustentável e de natureza.

Em 2005, o Cristalino Lodge ganhou bangalôs e maior estrutura, áreas comuns e sala de conferência, já que muitos estudos seguem acontecendo aqui – de clima, fungos, botânica, mamíferos, aves… É o hotel mais sustentável que já vi.

As 18 acomodações do lodge incluem estruturas de madeira em bangalôs distribuídos pela selva – literalmente -, de onde é necessário caminhar entre a mata para chegar ao flutuante ou à área comum. Aconchegante, o piso é de cerâmica, o que confere uma sensação de segurança/ limpeza, por conta dos bichos – acredite, na Amazônia isso é essencial.

Bangalô luxo, único com banheira ao ar livre (Foto: Samuel Melim)

O som da floresta é impactante: os macacos, os pássaros. Uma vivência de estar realmente dentro da selva, ouvir seus barulhos, entender seu comportamento, uma conexão com o preservar.

Dona Vitória da Riva

Fruto de uma mulher guerreira, Vitória da Riva Carvalho, que sempre sonhou em buscar opções para conservar a floresta e mostrar seu valor em pé, nasceu o que é hoje a Reserva Privada do Patrimônio Natural (RPPN) do Cristalino, basicamente uma região de conservação criada por iniciativa própria, de modo que sua área fosse protegida eternamente. Seus ancestrais que fundaram a cidade mais próxima, Alta Floresta, cidade que está inserida no bem natural mais precioso de nosso país: a floresta amazônica. Após a formalização da RPPN, Vitória da Riva incentivou o governo do estado a criar um parque de 189.400 hectares no entorno das reservas privadas, que ainda não têm estratégia de manejo, emendada com a área da Força Aérea Brasileira no Pará. Ou seja, uma importante extensão de proteção de floresta amazônica primária.

Amazônia do Sul é uma região da floresta pouco visitada por turistas brasileiros (Foto: Daniela Filomeno)

Muito engajada com o meio ambiente, os conselhos de conservação, a sustentabilidade e o ecoturismo, dona Vitória entendeu que, para conservar, era preciso ter independência financeira. Daí a criação do Cristalino Lodge.

Ela e seu filho, Alex da Riva, também mantêm a Fundação Cristalino, que se dedica a análises e autoriza pesquisadores internacionais em estudos de clima, aves, mamíferos, botânicas, fungos e insetos. O primeiro levantamento de toda a flora da Amazônia, que durou três anos e identificou novas espécies, foi feito aqui pelo Royal Botanic Gardens, de Kew, em Londres, em conjunto com a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT).

O deck flutuante do Cristalino Lodge às margens do rio (Foto: Luis Gomes)

Pesquisa gera conhecimento e conhecimento gera valor. Por isso, a fundação também oferece educação ambiental a crianças de escolas públicas municipais e estaduais, com projetos como o Um Dia na Floresta.

Dona Vitória afirmou (em entrevista por Zoom, devido à pandemia): “Todos nós somos agentes de mudanças. Podemos beneficiar uma transformação”. E completou: “Pesquisa gera conhecimento e conhecimento gera valor”. Vamos visitar a Amazônia e, assim, ajudá-la?

Sustentabilidade

É o hotel com mais iniciativas sustentáveis que já vi. Sustentabilidade na estrutura, tratamentos biológicos, com termocultura com bananeiras e com evaporação. Os vasos sanitários têm um tanque com sistema de pedras com tratamento das raízes, os canteiros de flores. Há recolhimento e separação do lixo, que é compostado em uma usina doméstica, com contêineres que o transformam em adubo orgânico. Tudo no hotel é sustentável.

Da construção ao tratamento de dejetos e luz solar, todo o Cristalino é pensado para ser o mais sustentável possível (Foto: divulgação)

É possível ver que nossas ações impactam no meio ambiente. Estar no Cristalino te dá uma sensação de bem-estar. Permite uma conexão incrível consigo mesmo, pois você se sente parte da floresta.

E o projeto de conservação da mata nativa, motivado pela iniciativa privada e somado a estudos e pesquisas que ali acontecem, chama-nos para o dever que temos na preservação de nossa floresta. Iniciativa que inspira e nos faz questionar: será que estou fazendo algo por nossa Amazônia?

Rio Cristalino (Foto: CNN Viagem&Gastronomia)
Refeição no Cristalino Lodge (Foto: CNN Viagem&Gastronomia)
Como chegar?

A região do sul da Amazônia, no estado de Mato Grosso, tem porta de entrada pela cidade de Alta Floresta (com voos de várias capitais). De lá, existe um transfer até a Reserva do Cristalino (30 quilômetros de estrada de terra, mais ou menos uma hora) e um barco – que já é um passeio – , até o Cristalino Lodge. Vale a pena? Muito!!


Quando ir?

Situada na região dos trópicos e próxima à linha do Equador, a Amazônia é caracterizada como uma floresta tropical úmida. Temperaturas quentes com máximas de 35 e mínimas de 15 graus Celsius são encontradas nessa região. Durante o período da noite, a temperatura pode cair um pouco. Por lá, existem duas estações bem definidas: a estação seca, de junho a novembro, e a estação verde, de dezembro a maio. Ambas são excelentes para conhecer a Amazônia, apresentando características singulares que enriquecem a viagem.

Na estação seca, o rio Cristalino atinge seu ponto mais baixo em setembro, com muitas corredeiras, e é uma ótima época para avistar aves e animais. Na estação verde, a floresta torna-se mais húmida e o rio atinge seu ponto mais alto em março, encobrindo as pedras e ficando mais calmo e plácido. Chuvas podem ocorrer o ano todo, sendo mais comuns de dezembro a março -, contudo são em geral fortes e rápidas, seguidas de um céu colorido. Já os meses de novembro e junho também são ótimos por serem estações intermediárias, quando o céu fica ainda mais colorido.

FONTE: Daniela Filomeno, do Viagem & Gastronomia CNN BRASIL

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