O Papa Francisco chegou ao Iraque para a primeira visita papal lá, e sua primeira viagem internacional desde o início da pandemia do coronavírus.
Os temores de Covid e da segurança fizeram desta sua visita mais arriscada até agora, mas o homem de 84 anos insistiu que estava “comprometido”.
Ele tentará tranquilizar a comunidade cristã cada vez menor e promover o diálogo inter-religioso – encontrando-se com o clérigo muçulmano xiita mais reverenciado do Iraque.
O Papa também celebrará a missa em um estádio em Irbil, no norte.
Cerca de 10.000 membros das Forças de Segurança do Iraque estão sendo destacados para proteger o Papa, enquanto toques de recolher 24 horas por dia também estão sendo impostos para limitar a disseminação de Covid.
O primeiro-ministro do Iraque, Mustafa al-Kadhimi, cumprimentou o papa no aeroporto. No avião, Francisco disse que estava feliz por voltar a viajar, acrescentando: “Esta é uma viagem emblemática e um dever para com uma terra que há tantos anos foi martirizada”.
Ele havia dito anteriormente que os cristãos iraquianos não poderiam ser “decepcionados pela segunda vez”, depois que o Papa João Paulo II cancelou os planos de uma viagem em 1999, quando as negociações com o governo do então presidente Saddam Hussein foram interrompidas.
Nas duas décadas desde então, uma das comunidades cristãs mais antigas do mundo viu seu número cair de 1,4 milhão para cerca de 250.000, menos de 1% da população.
Muitos fugiram para o exterior para escapar da violência que assola o país desde a invasão liderada pelos Estados Unidos em 2003, que derrubou Saddam.
Dezenas de milhares também foram deslocados quando militantes do Estado Islâmico (EI) invadiram o norte do Iraque em 2014, destruindo suas igrejas históricas, confiscando suas propriedades e dando-lhes a opção de pagar um imposto, se converter, sair ou enfrentar a morte.
O que o Papa espera alcançar?
O chefe da Igreja Católica Romana pretende encorajar os cristãos perseguidos e apelar à paz nas reuniões com líderes políticos e religiosos, relata Mark Lowen da BBC, que está a viajar com ele.
Dirigindo-se ao povo iraquiano em uma mensagem de vídeo na véspera de sua viagem , o Papa Francisco disse que estava “vindo como um peregrino, como um peregrino penitente, para implorar ao Senhor perdão e reconciliação após anos de guerra e terrorismo”.
Continuou: «Venho entre vós também como peregrino de paz … em busca da fraternidade e movido pelo desejo de rezar juntos e de caminhar juntos, também com os nossos irmãos e irmãs de outras tradições religiosas, nos passos do Padre Abraão , que se junta em uma família de muçulmanos, judeus e cristãos. “
Antes da visita, os cristãos que fugiram para Irbil, na região do Curdistão iraquiano, depois que o EI invadiu a planície de Nínive a oeste em 2014, pediram ao Papa que os ajudasse.
Alla Hana Shaba disse à rede Rudow: “Queremos que o Papa ajude os deslocados a encontrar um lugar para se estabelecer. Perdemos nossas casas e dinheiro.”
Outro cristão do norte, Saad al-Rassam, disse à AFP: “Esperamos que o Papa explique ao governo que precisa ajudar seu povo. Sofremos muito, precisamos do apoio”.
Quem são os cristãos do Iraque?
- Pessoas no que hoje é o Iraque abraçaram o Cristianismo no século 1 DC
- De acordo com o departamento de estado dos EUA , os líderes cristãos estimam que haja menos de 250.000 cristãos restantes no Iraque, com a maior população – pelo menos 200.000 – vivendo na planície de Nínive e na região do Curdistão, no norte do país.
- Aproximadamente 67% deles são católicos caldeus, cuja Igreja de rito oriental mantém sua própria liturgia e tradições, mas reconhece a autoridade do papa em Roma. Outros 20% são membros da Igreja Assíria do Oriente, considerada a mais antiga do Iraque
- Os demais são siríacos ortodoxos, siríacos católicos, armênios católicos, armênios apostólicos, bem como anglicanos, evangélicos e outros protestantes
Qual é a programação do Papa?
Devido a questões de segurança e um aumento acentuado nas infecções por Covid-19, o Papa terá exposição limitada ao público, disse nosso correspondente.
O próprio Papa tomou duas doses da vacina BioNTech / Pfizer e sua comitiva terá sido inoculada, mas há temores de que a viagem possa se tornar um evento super-propagador, dada a grande multidão esperada.
Na sexta-feira, Francisco se encontrará com bispos e outros clérigos em uma igreja católica siríaca na capital, Nossa Senhora da Salvação, onde 52 cristãos e policiais foram mortos em um ataque de jihadistas de um grupo precursor do EI em 2010 .
No sábado, o Papa voará para o sul, para a cidade sagrada xiita de Najaf, onde visitará o Grande Aiatolá Ali al-Sistani. O homem de 90 anos é a principal marja, ou referência espiritual, para milhões de xiitas no Iraque e em outros lugares.
O Papa Francisco então participará de um encontro inter-religioso no antigo local de Ur, tradicionalmente considerado o local de nascimento do Profeta Abraão.
No domingo, ele viajará para a cidade de Mosul, no norte. Ele fará uma prece de sufrágio na Praça da Igreja pelas vítimas da guerra com o EI, que deixou dezenas de milhares de civis mortos.legenda de mídiaUm projeto contratou moradores de todas as religiões para trabalharem juntos na reconstrução da cidade de Mosul (relatório de fevereiro de 2021)
O papa também visitará a vizinha Qaraqosh, para onde os cristãos voltaram desde a derrota do EI em 2017 para restaurar a igreja da cidade e reconstruir suas casas.
Naquela tarde, ele celebrará a missa em um estádio em Irbil, ao qual milhares de pessoas podem assistir.
FONTE: BBC NEWS
