A partir de março, duas das quatro vacinas candidatas desenvolvidas na ilha iniciarão seu terceiro e último teste, anunciou o governo
Enquanto outros países em desenvolvimento competem com nações mais ricas por um suprimento limitado de doses de imunizantes contra a Covid-19, Cuba apostou tudo na produção de suas próprias vacinas. A ilha vê a produção de um imunizante próprio um exercício de orgulho nacional e uma resposta à crise de saúde pública provocada pela pandemia.
Duas das vacinas se chamam Soberana [01 e 02] e outras duas ganharam foram batizadas como Abdala – o nome de um poema escrito pelo herói de independência cubano José Marti – e Mambisa, referindo-se aos guerrilheiros cubanos que travaram uma guerra sangrenta pela liberdade contra os espanhóis.
Cientistas cubanos começam os testes finais de suas vacinas Soberana-02 e Abdala neste mês, enquanto a ilha experimenta um aumento de novos casos. Durante grande parte de 2020, Cuba foi capaz de manter a propagação da pandemia sob controle, mas uma reabertura malfeita para viajantes internacionais, em dezembro, levou a um aumento no número de casos.
Fevereiro foi o mês mais letal para o país caribenho, com 108 mortes e 7.642 novos casos, segundo estatísticas do governo.
Cientistas cubanos dizem que esperam que suas vacinas sejam uma virada de jogo – não apenas contra os números crescentes da Covid-19, mas também para os impactos desastrosos da pandemia em sua economia, movida pelo turismo.
“O principal objetivo deste ensaio clínico é mostrar a eficácia clínica de nossa vacina candidata”, disse Dagmar Garcia Rivera, pesquisador do Instituto Finlay, administrado pelo governo.
“Depois disso, poderíamos estar em condições de iniciar a vacinação em massa em Cuba e em alguns outros países do mundo”.
Testes de fase 3
Nos testes de fase 3 da Soberana-02, 44 mil voluntários serão vacinados. Os pesquisadores disseram à CNN que já produziram mais de 300 mil doses dessa vacina e aumentarão a produção com a expectativa de que os testes mostrem que a Soberana-02 é segura e eficaz.
A Soberana-02 também está sendo testada no Irã e o México está em negociações com Cuba para participar dos ensaios em breve. Suriname e Gana estão interessados em comprar vacinas cubanas quando elas estiverem prontas.
Rafael Hernandez, 73, participou do segundo ensaio da vacina e disse que os efeitos colaterais foram leves. “Antes de aplicar a primeira dose, o médico me disse que não havia registrado, entre as centenas de pacientes vacinados, uma única reação adversa, além de dor leve, aumento da temperatura, rigidez no braço vacinado, febre ou leve desconforto”, disse Hernandez à CNN .
Vacina mais testada em Cuba, a Soberana 02 tem uma tecnologia similar às vacinas de Oxford e a Sputnik V. Uma parte da proteína spike do vírus é inserida em um vírus inativado para gerar resposta imune.
Dificuldades econômicas
Os pesquisadores não saberão a eficácia da vacina até que concluam os testes de fase 3. Eles ainda estudam se a vacinação com Soberana 02 exigirá a administração de três doses da vacina aos pacientes.
“Precisamos de muitas vacinas para vacinar 11 milhões de cubanos. Se estimamos que os cubanos precisarão de uma, duas ou três doses, estimamos que Cuba precisará de 30 milhões de doses”, disse a Dra. Tania Crombet Ramos, diretora do Centro de Imunologia Molecular em Havana.
Crombet disse estar confiante de que Cuba acabará com mais de uma vacina aprovada, o que dará à ilha maior flexibilidade para combater a pandemia.
Além de terminar seus testes de vacinas, Cuba ainda precisa mostrar que pode produzir dezenas de milhões de doses dos imunizantes.
Isso não seria uma façanha pequena para qualquer país, mas particularmente desanimador para uma ilha onde a economia foi atingida pela pandemia e pelo aumento das sanções dos EUA sob o governo Trump.
Muitos cubanos atualmente têm dificuldade em encontrar analgésicos e antibióticos básicos.
“Turismo da vacina”
No entanto, as autoridades de saúde cubanas disseram que esperam vacinar toda a população da ilha até o final do ano e podem até vender, doar doses adicionais no exterior ou mesmo comercializar “férias de vacinação” para ajudar a duramente atingida indústria do turismo de Cuba a se recuperar.
“Temos capacidade produtiva para milhões de doses da vacina”, disse Garcia. “Provavelmente mais da vacina do que Cuba precisa. Em algum momento teremos alguma vacina ou algum nível de dose disponível para outros países do mundo”.
O médico Jose Moya, um especialista peruano em saúde, morador de Havana, para a Organização Mundial da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde, disse que estava animado com o fato de os pesquisadores cubanos de vacinas estarem cumprindo os protocolos internacionais e fornecendo atualizações sobre seu progresso.
“Estamos acompanhando esses resultados com atenção primeiro porque a população cubana se beneficiará diretamente de suas vacinas candidatas e isso em algum momento poderá controlar a transmissão no país”, disse Moya.
“O fato de Cuba ter quatro vacinas candidatas é uma notícia muito boa não apenas para Cuba, mas também para o Caribe e a América Latina”.
FONTE: Patrick Oppmann, da CNN